quarta-feira, 17 de agosto de 2016

Uma Viagem pela Colômbia - Ponto de Partida: Mini-Mal

Depois de um dia em viagem transatlântica, a alimentarmo-nos da comida muito pouco entusiasmante de aeroporto e avião, enfim aterrámos em El Dorado, Bogotá.
Do aeroporto fizemo-nos, com a barriga cada vez mais a exigir alimento, às estradas e ruas da capital da Colômbia, em direcção a Chapinero Alto, o bairro onde nos estabelecemos.
Enquanto chovia lá fora, o táxi deambulava perdido pelas calles, que aqui têm a designação de números. A 66 estava difícil de encontrar. Mas, enfim, demos com o destino final. 
Malas depositadas no hotel, seguimos para a nossa primeira refeição em solo colombiano. Enquanto isso, nas ruas de Chapinero Alto o céu continuava a desabar.
O carro parou à porta de uma moradia e corremos os metros finais, a fugirmos da chuva, para entrarmos no Mini-Mal, onde iniciámos a viagem, esta sem jet lag, pelos ingredientes e sabores colombianos.
E que começo.
O restaurante tem como filosofia efectuar um exercício de investigação-criação gastronómica com os produtos locais do país e com isso valorizar e proporcionar a apreciação da diversidade e a tradição cultural contida na Colômbia, um dos países com maior diversidade no mundo.
Num espaço simples e agradável, outrora uma moradia habitacional, um jovem de Cali, deu-nos as boas vindas e encheu-nos de simpatia, algo que foi uma constante em toda a nossa estadia na Colômbia.
Esse jovem, descendente de escravos africanos, conduziu-nos pelos sabores e ingredientes que se foram apresentado ao longo da noite.
Com poucas horas de Colômbia conseguimos fazer uma viagem desde a Costa do Pacífico, à Costa das Caraíbas, passando pela selva amazónica assim como por outras regiões colombianas.
Começámos com um delicioso sumo de granadilla e por uns bolinhos de banana madura recheados de carne de jaiba (caranguejo) guisada em leite de coco e picante suave.


Hmm...acabarmos de chegar a um destino longínquo e termos o privilégio de saborear algo tão diferente exponencia o impacto desta experiência.
De seguida ventos costeiros trrouxeram-nos à mesa arrullos. Frutos do mar (camarão tigre, polvo e lulas) em leite de coco, caril verde sobre chancacas (cocadas ácidas).


Iguaria deliciosamente exótica.
De platos fuertes, que é como quem diz pratos principais, chegou-nos de peixe Arawak Karib. Trata-se de filetes de robalo panados em mañoco (farinha de yuca brava) banhados num molho ligeiramente picante de goiaba, feijoa e endro acompanhados de inhame com suero costeño e salada.
Assim de repente iniciámo-nos numa série de ingredientes que nos acompanharam nas semanas seguintes. Frutas como goiaba e feijoa. Plantas como yuca (mandioca selvagem) e inhame.
O conjunto é algo de distinto e incrível, onde a doçura da goiaba contrasta com o cítrico da feijoa, com o sabor neutro da yuca, sobressaído pelo suero costeño, e cruza-se com o crocante da polme da fritura do peixe.
Muito bom.

Mini-
O prato de carne escolhido foi o Selva Adentro. Como indicia o nome trata-se de uma viagem ao interior da selva e à sua essência e produtos.
Recomendações, mergulhar sem filtros.
Este prato é constituído por morrillo (correspondente ao acém) de carne de vaca braseado com molho de tucupí amazónico (extracto de yuca brava), de sabor muito intenso, que é um pouco doce e também ácido, e foi servido com arroz branco e salada.
Ah, e o que é que há na selva? Por exemplo, formigas... Isso, esse prato tem também formigas (elementos mais escuros na fotografia). Formigas culonas, da região de Santander.
Formigas grandes. Diferentes da mais amigável (ao palato) sauva, uma formiga amazónica, que tivemos a oportunidade e o prazer de saborear no D.O.M., em São Paulo.



Por fim, terminámos a refeição com algo mais comum aos nossos hábitos alimentares, um gelado artesanal de canela da marca Selva Nevada.
Com esta refeição, a Colômbia gritou-nos as boas vindas.
Lá fora a chuva parou e sentimos que o momento chegou. 
Vamo nos embrenhar pela Colômbia.