quarta-feira, 4 de novembro de 2015

O Espectáculo Vai Começar | Mini Bar

Entramos em cena. O nosso lugar é ao balcão.
No fim percebemos que não há melhor lugar para vivenciar o espectáculo. Estamos mesmo em cima da boca de cena, onde toda a acção se passa.
Como uma peça de teatro, ou não estivéssemos na vizinhança de vários teatros, o jantar está dividido em actos. A própria decoração do espaço recria o ambiente teatral.
O Mini-Bar é o local onde tudo se desenrola. E José Avillez o encenador mor, mas apoia-se em inúmeros coadjuvantes.
O pano está prestes a levantar-se.
Começa o 1º Acto, com um mini cocktail de trincar, uma Caipirinha - Belcanto 2012. Curioso e inventivo, são palavras que descrevem este aperitivo em forma de esferificação.
Chega o 2º Acto, composto por mini petiscos, e digladiámo-nos com umas gambas do Algarve em ceviche e com um abacate em tempura com kimchi desidratado, rebentos de coentros, lima e limão.
Que delícia de momento. Afundamo-nos na cadeira e fruímos da mistura de sensações. Da acidez, picante e frescura do ceviche, soberbamente ponteado por uma esferificação de “leche de tigre” e pelo milho crocante, passamos para o conforto inusitado do abacate em tempura, que veio a ser um dos maiores protagonistas da noite. Com uma fritura perfeita, aparece soberba e inesperadamente acompanhada pelo magnífico kimchi desidratado.
A cena prosseguiu para o 3º Acto, feito por mini entradas. Com uma forte aposta no figurino, surge o elegante e esbelto “cornetto” temaki de tártaro de atum com soja picante. Textura do cone perfeita, feita com massa brick a imitar alga nori, peixe óptimo, mas conjunto algo enjoativo a pedir por mais soja picante a entremear o atum.
Neste acto foi apresentado ainda uns nuggets de bacalhau e emulsão “Bulhão Pato”. Perfeito. Tudo. Desde a fritura, textura do bacalhau, à emulsão.
A peça começou a ganhar mais densidade ao 4º Acto, composto por mini pratos de peixe. Este acto foi magistralmente digerido com a ajuda de pinças. Foi assim que manuseámos as macias e perfeitas vieiras salteadas com sabores Thai, servidas num réchaud.
Também num réchaud e com pinças foi apresentado o 5º Acto, baseado na oferta de mini pratos de carne, no qual deliciámo-nos com um divinal tataki de novilho com mostarda de Dijon, pimenta preta e flor de sal fumada. Carne estupendamente macia e deliciosa.
Ainda no 5º Acto surgiu em cena uma gulosa e deliciosa bifana Vietnamita.
No último acto, após um diálogo entre cliente e barmans com o fito de ajudar à escolha da sobremesa, a opção recaiu no Globo lima-limão. Depois de confirmado por um dos barman que, sim, é o mesmo conceito que a Tangerina do Belcanto, mas é verde! Assim, com veemência e entusiasmo.
Já com o último acto a decorrer, muito bem, diga-se, a cliente, muito feliz, dirige-se ao barman e diz, pensado ser uma boa notícia, “o Sporting está a ganhar”. Nesse momento dá-se como que uma tragédia pessoal no barman, que fica lívido. A cliente deduziu mal a cor clubística do barman, que ainda se encontrava em recuperação depois da tragédia dos 0-3, na semana anterior, para os lados de Carnide.
Mas esta situação em nada maculou os actos anteriores da peça a que nos propusemos naquela noite.
Pelo que o gelado de limão por fora e espuma de yuzo por dentro sobre um creme de lima foi digerido magnificamente e fechou brilhantemente toda a experiência.
Falta dizer que o elenco da peça, aka cocktails, foi composto por um Mojito à Cantinho e por uns shots de Primo Basílico (Gin, Limão, Manjericão), gentilmente oferecidos pelo barman e maravilhosamente sorvidos por nós.
O espectáculo terminou e as cortinas baixaram. Foi uma noite feliz.