segunda-feira, 27 de março de 2017

Bubbledogs | Champagne & Hot Dogs

A conjugação Cachorro Quente (Hot Dog) / Campanhe (Champagne) não é a mais óbvia. Na verdade não é nada evidente cruzar um elemento tipicamente pouco sofisticando, associado à comida rápida e de rua, a outro que destila glamour e sofisticação.


Pois é, mas este cruzar de elementos tão distintos no status acontece. No Soho londrino. 
Londres é daquelas cidades do mundo que se não existe algo é porque ainda não foi inventado.
Apesar da possível estranheza da conjugação, a mesma resulta muito interessante e gostosa.
No Bubbledogs, espaço divertido e descontraído, é onde podemos encontrar múltiplas combinações entre estas duas iguarias, cachorro quente e champanhe.
Enquanto o nosso pedido não chega à mesa podemos entreter-nos, divertidamente, a observar os diversos desenhos com o cachorro como intérprete principal.



Chega à mesa a comida e o cachorro continua a ser a estrela principal, mas agora coadjuvado pelo champanhe e as batatas.
Uma das versões escolhidas de cachorro quente é a BLT, com bacon crocante, alface caramelizada e maionese de trufa. Dão-nos a optar qual a carne que pretendemos para a salsicha. A escolha recai na de porco.
A escolha do champanhe é Gaston Chiquet (Sélection Cuvée, Brut) de Dizy, composto por 60% Pinot Meunier, 15% Pinot Noir, 25% Chardonnay.


Como o cruzamento dos opostos pode ter tanto de inusitado como de saboroso.
Um brinde à excentricidade e à simplicidade, as quais se reuniram à mesa e alcançaram um belo e delicioso resultado.

Taberna do Mercado | Londres

Quando de viagem não sinto necessidade de me alimentar de comida portuguesa. As saudades não se impõem em tão pouco tempo e, por outro lado, na minha concepção, viajar é descobrir coisas novas, nas quais se incluem novos sabores.
Contudo, por vezes, algo da gastronomia portuguesa é um destaque na cena gastronómica do local onde estamos de viagem e, nesse caso, vale a pena quebrar a regra.
Foi o que se passou em Londres, onde entrámos num sítio todo ele a transpirar portugalidade. Loiça Vista Alegre, tampos das mesas com mármores de Estremoz, cadeiras modelo Gonçalo (a mais famosa e icónica cadeira de esplanada portuguesa), garrafeira com vinhos e outras bebidas de marcas portuguesas, outros produtos portugueses expostos, como o sal (Salmarim) e o azeite.

 


Todas estas referências portuguesas encontram-se no Taberna do Mercado, no Old Spitalfields Market, em Shoreditch, na zona leste de Londres. Este é o espaço actual de Nuno Mendes, o chef português que conquistou os londrinos e é uma referência gastronómica da capital britânica. Depois dos seus projectos anteriores, no quais se destaca o Viajante - com o qual logo no primeiro ano ganhou uma estrela Michelin -, não mais saiu da cena gastronómica londrina.
Assim, estando em Londres não perdemos a oportunidade de petiscar, num ambiente informal e descontraído, ao belo estilo português. É uma cozinha de partilha, a desenvolvida neste espaço onde rapidamente os empregados começam a falar português connosco. 
Instalámo-nos na sala principal (há mais um espaço ao estilo de esplanada fechada, onde estão as cadeiras Gonçalo) e logo fizemos a escolha dos pratos.
Tostas de lardo fumado na casa. Lardo é uma parte da gordura do porco, em que os italianos são exímios a preparar.

 

Pão com azeite, conserva caseira de mexilhão com cebola (Mussels, pickled onions and grilled sourdough) e conserva de cavala feita na casa com refogado de tomate e presunto (Mackerel, tomato sofrito).

 


Green bean fritters and bulhão pato, que é como quem diz peixinhos da horta, embora com uma polme mais à tempura japonesa, acompanhados de um caldo à Bulhão Pato.


Salada de polvo com pimento (Octopus and pepper salad).


Choco com pezinhos de coentrada (Cuttlefish and pig trotters coentrada).

 

Para rematar podia ter sido um pão-de-ló, mas optámos pelo pudim feito de presunto, o Abade de Priscos, envolvido numa calda ligeira de vinho do porto e canela.


Apreciações. Estava tudo bom. A fazer jus ao conceito de captar e reinterpretar os ingredientes, pratos e sabores portugueses.
Destaque para o lardo, que adoro. Para o encontro inusitado dos peixinhos da horta com o caldo à Bulhão Pato, o que transforma este snack num dos ex-libris da casa.
Para o cruzamento de sabores do mar e da terra conseguido pela cavala com o presunto. 
Para o casamento, também do mar e da terra, mas bem mais arriscado e difícil, do choco com os pézinhos de coentrada, onde se obtém uma união feliz e cheia de personalidade.
E, claro, para uma das sobremesas sensação, o Pudim de Abade de Priscos. 
Pontos negativos, a quantidade versus preço de algumas das propostas. É certo que apesar de ser uma Taberna não estamos em terras lusas, mas ainda assim. 
Outro aspecto a assinalar é, apesar do ambiente informal, não se justificar apresentar pratos lascados/falhados, comprometendo a apresentação e a representação da marca Vista Alegre
A partir pratos que continue a ser metaforicamente e pela positiva, como tão bem conseguem fazer entre tachos.

terça-feira, 21 de março de 2017

Lima em Londres

Lima e Londres. Duas cidades. 
Lima em Londres. Numa cidade tão cosmopolita e multicultural como Londres, cabem várias cidades e há sempre um cantinho de qualquer parte do mundo.
O Peru, ou melhor, a gastronomia peruana está, muito bem, representada através dos restaurantes Lima. Os homónimos da capital peruana - existe um em Fitzrovia e outro em Covent Garden (Lima Floral) - são do chef Virgílio Martinez do Central de Lima, considerado o quarto melhor restaurante dos The World's 50 Best Restaurants em 2017.
O Lima de Fitzrovia, onde degustamos as iguarias peruanas que tanto adoramos, é igualmente um restaurante premiado, com uma sempre apetitosa estrela Michelin.
Numa noite chuvosa, bem ao estilo londrino, entramos, sentamo-nos e aguardamos, com uma ponta de ansiedade, pelos pratos que solicitámos. Um a um foram chegando. Mas antes fomos saboreando duas qualidades de pães, um de quinoa e outro de chilli, acompanhados de uma pasta de batata com iogurte.


Para refrescar a garganta chegou também o cocktail que nos iria acompanhar. Chilcano clássico, um refrescante cocktail peruano feito com Luna de Ica Accolade, sumo de lima, açúcar e ginger ale. Longe de superar a classe do aveludado Pisco Sour, mas não desilude totalmente.
Entretanto chega à mesa a primeira proposta gastronómica.
Tiradito de robalo selvagem com coco, ají Mirasol e ponzu amazónico.
Uau! Que aparência. Elegante e lindo esteticamente. Uma delicia gastronomicamente falando e degustando.
Uma pequena maravilha.


A seguir o ceviche. De legumes. Batata doce, quinoa vermelha, milho fresco e o essencial leche de Tigre, cítrico, tal como o nome da capital Peruana.
Não demos conta ao pedirmos que continha só legumes. Apesar da surpresa por nós despoletada, estava surpreendentemente bom. Deliciamo-nos até ao último pedacinho.


Momento seguinte, causaA causa é um prato elaborado com um dos principais ingredientes endógenos do Peru, a batata, a qual é originária daquelas coordenadas.
Existe centenas de variedades. Neste caso testámos quatro. Com cereais andinos, abacate Uchucuta e molho de pimenta Rocoto.
Comprovando a teoria de Aristóteles, que acreditava que na natureza há uma relação de causa e efeito, o efeito desta causa foi o de arrebatamento. 
Uma pequena e requintada maravilha estas causas.
Esperemos que, contrariando o filósofo grego, esta não seja a "causa final".


Cogumelos selvagens foi o que se seguiu. Com milho Inchicapi, achiote e sumo da flor de sabugueiro.
Substancial e delicioso.


Por fim, um prato de carne e, como o anterior, uma comida da terra. Neste caso, literalmente. 
Beef Pachamanca Duo com puré de batata amarela e raízes andinas, é o nome do prato. 
Pachamanca vem do quechua pacha, terra, e da língua aimara, em que manca significa "comida". Pachamanca é um prato típico do Perú elaborado pela cozedura através de pedras pré aquecidas.


Foi com o coração aquecido e estômago aconchegado que saímos do Lima para o frio da noite londrina.