quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

Tudo O Que Conta

Tudo o que conta é podermos fazer uma pausa neste pré-inverno com temperaturas diurnas primaveris e aproveitarmos os dias calmos deste último mês do ano.
Como Astor Piazzolla cantarolou “Vuelvo al Sur como se vuelve siempre al amor.
Voltamos à tranquilidade da costa alentejana, mas também à quietude da serra algarvia de Monchique.
Aos sabores e aromas destas coordenadas.
Tudo o que conta é acordar tranquilamente, ir ao mercado buscar peixe fresco, não haver horas e sentarmo-nos à mesa sem pressas.
Foi sem premências que fomos até à terra onde as ruas têm nomes de peixes, à Azenha do Mar, para comermos no restaurante local e com o nome da terra. Aquele, cuja cozinha funciona sem intermitências das 12h às 22h, tornando possível começarmos a almoçar às 16h - não sem antes enfrentarmos a sempre existente e longa lista de espera - e acabarmos a refeição do “meio-dia” com o sol à pôr-se à nossa frente.
A tentação é optarmos pelo fenomenal arroz de marisco, um dos ex-libris da casa. Cedemos, deixamos o arroz e ficamo-nos pelo marisco. Não poupamos a sapateira e as amêijoas que vêm parar à nossa mesa. No fim, não resta nada. Apenas o invólucro.
Saímos com mais quilos do que quando entrámos. Quilos de peso, até porque a manhã foi de exercício, a percorrer um dos troços da rota vicentina, os 15 km entre Almograve e Vila Nova de Milfontes. Mas sobretudo quilos de felicidade.
Nesse dia já só resta espaço no estômago para um petisco, à base de produtos locais, na Tasca do Celso, em Vila Nova de Milfontes, e um Gin de origem nacional, o delicioso Gin Tinto.
Outro dia. Afastamo-nos da costa e subimos à serra, não sem antes pararmos no Rogil, para abastecermo-nos de pão e bolinhos com os produtos autóctones (alfarroba, amêndoa, batata doce).
A dureza e os ares da serra exigem comida farta. Sentamo-nos na Tasca do Petrol, em Marmelete, e aviamos umas bochechas de porco preto com batatinhas no forno e um cozido de couves com enchidos e papa de milho.
Encerramos a refeição com um doce de batata doce e coco. Maravilhoso. Revigorante. Tudo.
Antes do regresso a Lisboa, sentamo-nos de frente ao mar, em S. Torpes, a absorver paz. Degustamos também uns petiscos no Trinca Espinhas. Favinhas com molho verde, saladinha de polvo, mexilhões. Deliciamo-nos com os sabores e com todo o ambiente.
O que pensarão os alemães que estão ao nosso lado?
Aposto que o mesmo que nós. Isto é tudo o que conta. As coisas simples, boas e bonitas da vida.
 
Nota: Tudo o que conta é o último romance do, recentemente falecido, James Salter. Foi esse o livro que me acompanhou para sul, nesta pausa retemperadora.

quarta-feira, 4 de novembro de 2015

O Espectáculo Vai Começar | Mini Bar

Entramos em cena. O nosso lugar é ao balcão.
No fim percebemos que não há melhor lugar para vivenciar o espectáculo. Estamos mesmo em cima da boca de cena, onde toda a acção se passa.
Como uma peça de teatro, ou não estivéssemos na vizinhança de vários teatros, o jantar está dividido em actos. A própria decoração do espaço recria o ambiente teatral.
O Mini-Bar é o local onde tudo se desenrola. E José Avillez o encenador mor, mas apoia-se em inúmeros coadjuvantes.
O pano está prestes a levantar-se.
Começa o 1º Acto, com um mini cocktail de trincar, uma Caipirinha - Belcanto 2012. Curioso e inventivo, são palavras que descrevem este aperitivo em forma de esferificação.
Chega o 2º Acto, composto por mini petiscos, e digladiámo-nos com umas gambas do Algarve em ceviche e com um abacate em tempura com kimchi desidratado, rebentos de coentros, lima e limão.
Que delícia de momento. Afundamo-nos na cadeira e fruímos da mistura de sensações. Da acidez, picante e frescura do ceviche, soberbamente ponteado por uma esferificação de “leche de tigre” e pelo milho crocante, passamos para o conforto inusitado do abacate em tempura, que veio a ser um dos maiores protagonistas da noite. Com uma fritura perfeita, aparece soberba e inesperadamente acompanhada pelo magnífico kimchi desidratado.
A cena prosseguiu para o 3º Acto, feito por mini entradas. Com uma forte aposta no figurino, surge o elegante e esbelto “cornetto” temaki de tártaro de atum com soja picante. Textura do cone perfeita, feita com massa brick a imitar alga nori, peixe óptimo, mas conjunto algo enjoativo a pedir por mais soja picante a entremear o atum.
Neste acto foi apresentado ainda uns nuggets de bacalhau e emulsão “Bulhão Pato”. Perfeito. Tudo. Desde a fritura, textura do bacalhau, à emulsão.
A peça começou a ganhar mais densidade ao 4º Acto, composto por mini pratos de peixe. Este acto foi magistralmente digerido com a ajuda de pinças. Foi assim que manuseámos as macias e perfeitas vieiras salteadas com sabores Thai, servidas num réchaud.
Também num réchaud e com pinças foi apresentado o 5º Acto, baseado na oferta de mini pratos de carne, no qual deliciámo-nos com um divinal tataki de novilho com mostarda de Dijon, pimenta preta e flor de sal fumada. Carne estupendamente macia e deliciosa.
Ainda no 5º Acto surgiu em cena uma gulosa e deliciosa bifana Vietnamita.
No último acto, após um diálogo entre cliente e barmans com o fito de ajudar à escolha da sobremesa, a opção recaiu no Globo lima-limão. Depois de confirmado por um dos barman que, sim, é o mesmo conceito que a Tangerina do Belcanto, mas é verde! Assim, com veemência e entusiasmo.
Já com o último acto a decorrer, muito bem, diga-se, a cliente, muito feliz, dirige-se ao barman e diz, pensado ser uma boa notícia, “o Sporting está a ganhar”. Nesse momento dá-se como que uma tragédia pessoal no barman, que fica lívido. A cliente deduziu mal a cor clubística do barman, que ainda se encontrava em recuperação depois da tragédia dos 0-3, na semana anterior, para os lados de Carnide.
Mas esta situação em nada maculou os actos anteriores da peça a que nos propusemos naquela noite.
Pelo que o gelado de limão por fora e espuma de yuzo por dentro sobre um creme de lima foi digerido magnificamente e fechou brilhantemente toda a experiência.
Falta dizer que o elenco da peça, aka cocktails, foi composto por um Mojito à Cantinho e por uns shots de Primo Basílico (Gin, Limão, Manjericão), gentilmente oferecidos pelo barman e maravilhosamente sorvidos por nós.
O espectáculo terminou e as cortinas baixaram. Foi uma noite feliz.

terça-feira, 27 de outubro de 2015

Coimbra | Correr Atrás de Comida

Uma cidade. Coimbra.
Um rio que a banha e que a separa em duas. O Mondego.
Na margem Oeste do Mondego fica Santa Clara. Na parte baixa, Santa Clara-a-Velha. Na parte alta, Santa Clara-a-Nova.
Na margem Este do rio, fica o centro de Coimbra, composto pela Baixa e pela parte Alta.
Numa margem, na canhota, fica O Cordel. Lá no alto de Santa Clara-a-Nova.
Na outra margem, na direita, fica o Tapas nas Costas. A meio caminho entre a Baixa e a Alta de Coimbra, na Rua do Quebra Costas.
Em comum, são restaurantes petisqueiros. Dos bons.
O Cordel apresenta-se de uma forma simples mas cuidada. Entre a sala lá de casa e a mercearia lá do bairro. Ou seja, está no campeonato da comida de “conforto”.
A oferta, expressa numa ardósia em ponto grande, faz-se através de petiscos, mas também de alguns pratos principais.
Apostámos na veia petisqueira. De arranque, após umas azeitonas e pão soberbo, vieram codornizes com sabores de Outono, isto é, puré de castanha. Deliciosas.
Sem mais demoras, degustámos uns cogumelos gratinados. De seguida uns, substanciais, ovos mexidos com farinheira.
Antes do desfecho adocicado, rematámos com um pica-pau de vitela.
No capítulo doçura, refastelamo-nos com uns soberbos papos de anjo com gelado de tangerina e com um delicioso bolo de nozes com doce de ovos.
Finito.
Este Cordel não tem nós.
No Tapas nas Costas, foi onde recuperámos as energias após os 10 km inseridos na meia-maratona de Coimbra.
Com uma decoração de bom gosto, a carta é igualmente feita de propostas cheias de qualidades.
Para começar, designação da carta, entusiasmamo-nos com umas azeitonas maravilhosas e com uma combinação de pães estupendos.
No capítulo do a estas não se vira as costas!,  seguimos à risca e tivemos um tête-à-tête com um novilho braseado. A carne, de grande qualidade, estava no ponto. Como bónus, a acompanhar, tivemos ainda umas tirinhas de cebola frita estonteantes.
Ainda no mesmo capítulo, aquele que não se vira as costas!, aconchegámos o estômago com ovos com alheira de caça e grelos.
Estás aqui estás a comer... Diz a carta e é verdade. Por isso não nos escaparam o salteado de cogumelos salteados nem a deliciosa combinação de beringela com mozzarela e tomate.
Como há mar e mar, há ir e provar, chegou à mesa o prato mais surpreendente. Um mil folhas de bacalhau à Brás, feito com massa filó. Irrepreensível na feitura e no sabor. 
No último capítulo fechámos com duas sobremesas. Um muito bem conseguido e delicioso leite creme de tomilho com redução de moscatel e um guloso crumble de maçã e canela.
Não me parece que Coimbra tenha mais encanto na hora da despedida.

terça-feira, 1 de setembro de 2015

Viagem Fotográfica pelos Mercado de Rua - Tirana

 Banca de azeitonas

Banca de ovos

Banca de tabaco

Banca de frutas
 
Banca de vegetais
 
Queijos
 
Feijão