domingo, 30 de agosto de 2015

Pratos e Aromas dos Balcãs - Croácia, Bósnia e Herzegovina e Montenegro

Na costa, quer da Croácia como do Montenegro, é o peixe que marca presença obrigatória. Em Dubrovnik comemos coisas como ostras, mexilhões, salada de anchovas, hambúrguer de polvo e sardinhas/petinga.
Na Bósnia e Herzegovina, apesar da curta permanência, percebemos que a gastronomia, e não só, tem outras influências, nomeadamente do império otomano. Comemos cevapi, o prato nacional. Trata-se de um prato de carne (vaca ou borrego) moída e moldada no formato de pequenas salsichas. A carne, em regra, é acompanhada de pão turco, salada e batatas fritas.
Em Mostar, não estivéssemos mesmo ao lado do rio, o Neretva, comemos ainda truta.
Pelas estradas da Bósnia cruzámo-nos constantemente com bancas de legumes e de fruta. Aqui, como voltámos também a presenciar noutros pontos dos Balcãs, a melancia é a fruta mais exposta.
Ficará na minha memória o que, infelizmente, não comi. Uma das muitas melancias, quase sempre enormes, com que os nossos olhos se cruzaram, mas o estômago não. Sobretudo, aquelas que estavam dentro da água gelada do rio Buna em Blagaj, quando a temperatura do ar situava-se próximo dos 40 graus. 
Ainda na Bósnia, em Pocitelj, fascinámo-nos com as frutas e frutas secas dispostas em embrulhos irrepreensivelmente arranjados que vislumbrámos,  as quais estavam em sintonia com a origem e beleza da malha construída deste povoado de influência otomana.
No Montenegro, tal como na Croácia, os mexilhões continuaram assíduos na nossa mesa, assim como as douradas e as lulas. Quer os moluscos, diria que a maioria de viveiro, como o peixe não são tão bons como os do nosso país. As águas quentes contribuem para que o peixe não seja tão gordo e saboroso. Verifica-se também uma influência italiana através das massas e pizzas.
Nos locais mais turísticos do Montenegro, a maioria localizados na costa, o serviço é frequentemente péssimo, rude e antipático. Aconteceu-nos um pouco de tudo o que não pode acontecer quando nos prestam um serviço. Desde atirarem-nos com a conta à cara (literalmente) depois de perceberem que a gorjeta não era do agrado, a cometerem erros em cima de erros como na vez que pedimos um prato com molho de tomate e foi servido com molho de natas e após alertarmos veio logo de seguida um mix, por terem acrescentado o molho de tomate em cima do de natas. Mas a encabeçar o top está a situação que ocorreu em Ulcinj, a cidade mais a sul do Montenegro, a uma dezena de quilômetros da Albânia. A carta do restaurante era ilustrada com fotografias, de forma a mostrar, pensávamos, o prato a ser servido. Entre os vários pratos havia um "seafood mix" que era composto entre outras coisas de ostras, mexilhões, camarões. Como não escolher aquela opção? Pois bem, veio para a mesa uma mistela de tomate com pedaços de lula e polvo. Pedimos satisfações pelo embuste, as quais nos foram respondidas com o maior descaramento. O erro era do designer que tinha escolhido mal a fotografia para a ilustração e, mais, foi-nos questionado como é que queríamos comer marisco se no Montenegro tal coisa não existe. Fabuloso. O mais grave é que fica a sensação que o serviço não é mau por não saberem fazer, mas antes por se querer ser esperto e oportunista junto do turista. Sim, porque os preços no Montenegro turístico são aos valores do Portugal não económico.
No norte do Montenegro, na zona montanhosa, a experiência gastronómica e relacional é outra. Mais hospitaleira, preços mais acessíveis, comida mais intensa e em grandes quantidades. Num restaurante em Zabljak, cidadezinha antecâmara do Parque Durmitor, o mínimo de quantidade da carne servida é 1 kg.
Deve ser o ar puro da montanha e o desgaste das caminhadas pela montanha que fazem abrir o apetite. Apesar de a nós não tenha tido um efeito suficiente para darmos cabo de tudo o que veio para a mesa.
Depois de sairmos de Kotor e termos subido ao monte Lovcen, passámos por Njeguski, terra mãe do presunto homónimo, uma das iguarias do Montenegro.
Não resistimos em comprar umas quantas fatias que fizeram parte do piquenique que, uns quilómetros à frente, fizemos num banquinho de Cetinje, capital histórica do Montenegro, conjuntamente com burek de carne e um pão que comprámos numa pekaria (padaria) local. As pekarias são uma tradição dos Balcãs, pelos diversos países que passámos foram uma constante. 
Pelo interior do Montenegro o peixe passa a ser de rio e a truta é rainha. 
Também no interior e montanhas a natureza está ao nosso dispor. Comer amoras silvestres junto ao lago Skadar e morangos silvestres nas montanhas do Durmitor são coisas tão simples como deliciosas.
Outra dádiva da natureza e quase uma constante em diversos lugares que estivemos e passámos foi o cheiro a figos, de tal forma que se tivéssemos que eleger uma fragância que marque a viagem seria o emanado pelas inúmeras figueiras.
Figos, outras frutas, compotas, licores, vinhos, aguardente local rakija, sãos produtos locais e caseiros que podem ser adquiridos nas banquinhas à beira das muito exíguas estradas montenegrinas, como esta junto ao lago Skadar.
Em Podgorica, capital do Montenegro, o ambiente é também acolhedor. A cidade tem uma estrutura urbana débil, pouco consentânea com uma cidade e ainda menos capital de um país. A tal ponto que colher figos directamente de uma figueira do centro da cidade é uma realidade.
Outras surpresas positivas chegam com o anoitecer. Fomos até à rua dos bares e restaurantes e aí encontrámos uma mão cheia de sítios com um ambiente trendy, bonito e com boa oferta. Jantámos uns óptimos petiscos no restaurante do hotel Hemera e bebemos um mojito num dos animados e bonitos bares da rua Bokeška.
 
Quanto a bebidas, ao longo da viagem fomo-nos hidratando durante o dia com litros e litros de água, como combate às temperaturas a rondarem os 40º. Já pela noite a bebida eleita foi o refrescante Aperol Spritz, a acompanhar os jantares o agradável vinho local Vranac, a casta de uvas autóctone montenegrina, e, uma ou outra vez, que a potência não convidou a mais, como digestivo, Rakija, a aguardente montenegrina.
Antes de seguirmos para a Albânia, em direcção à Macedónia, à noite, na sobrelotada promenade de Ulcinj cruzámo-nos com um serviço muito peculiar. Uma balança para aferirmos o nosso peso. Não fizemos a avaliação, sentimo-nos em condições de prosseguir viagem para sul e depois nascente.