sexta-feira, 25 de agosto de 2017

Viagem Pelos Sabores da China

Algures na província chinesa de Guangxi há um miradouro com o nome Música do Paraíso e outro, igualmente com uma designação poética, Mil Camadas do Céu. Destes pontos de vista privilegiados avistamos os terraços de arroz de Longsheng. É dali, daqueles terrenos em socalco, bem como de muitos outros campos de arroz espalhados pela enorme China, que se extrai um dos principais alimentos dos Chineses.


Durante a nossa presença na China, pelas províncias de Guangxi e Yunnan, e também por Hong Kong, em quase todas as refeições, tivemos a companhia desta cultura cerealífera. Assim como de um bule de chá. Estes dois elementos são presenças constantes e reconfortantes, por nos serem familiares.


Verdade, na China mais profunda nem sempre é fácil saber o que nos vai chegar no prato. Até porque a comunicação é um grande desafio.
Não é também mito que na China se comem coisas estranhas para os nossos padrões culturais.



No entanto, apesar de as incursões gastronómicas não serem sempre familiares, para mim é reconfortante ter estes desafios na vida.
Porém há um aspecto que merece contraditório. Inversamente ao que diz a marchinha brasileira de carnaval Lig-Lig-Lig-Lé, mais recentemente popularizada por Adriana Calcanhotto, “Chinês não come somente uma vez por mês”. Não mesmo. Chinês come várias vezes por dia. E muito.



A comida é uma coisa levada muito a sério pelos chineses. Para além de um prazer, uma refeição é um verdadeiro acto social e de partilha. É vê-los em família e, também, em almoços de negócios, sentados à mesa, onde se configuram grandes quantidades de comida prontas a serem compartilhadas entre todos. Foi para facilitar essa partilha que inventaram aquelas grandes mesas redondas com placa central giratória.
A culinária chinesa é uma das maiores do mundo. É muito forte e diversa, ou não fosse a China quase um Continente. Pelo que há ofertas de várias naturezas, sejam estabelecimentos como comida de rua, e com muitas variações regionais.
Destaco particularmente, por gostar do conceito, os restaurantes que apresentam numa vitrina os ingredientes disponíveis para confecção. Legumes, uns mais familiares do que outros, carne, peixe. A nós cabe-nos apenas escolhe-los e aguardarmos que cheguem já confeccionados à mesa.


A este respeito, vai ficar na memória o almoço na cidade velha de Baisha, na envolvente de Lijiang, de onde viemos a pedalar, e onde comemos um maravilhoso peixe devidamente apurado com o  picante típico da culinária do Yunnan.


Neste pitoresco lugar, aos pés da Montanha Nevada do Dragão Jade, é maravilhoso apreciar e sentir a vivência autêntica da cultura da população Naxi, nomeadamente as várias situações de vendas de rua.





Os mercados, fechados ou de rua, são sempre emocionantes. Pela vibração, cor, texturas. Destaque para o de Lijiang, onde explorámos e nos cruzámos com uma infinidade de elementos apetecíveis.








É sempre um prazer podermos experimentar as frutas locais, umas mais conhecidas do que outras. Manga (deliciosa), abacaxi, mangostão (soberbo), líchia, pitaya (entusiasmante), bananas - pequenas e bojudas (poderosas), melancia (algumas delas amarelas por dentro), pepino (exótico), e mais um rol de delícias. Maravilha.








Como é também um deleite cruzarmo-nos e explorarmos novos paladares. Como o bambu recheado com arroz adocicado, os docinhos de pétalas de rosa de Lijiang, as raízes de lótus, a baba (um género de pizza) de Xizhou, o camarão bebé frito do Lago Erhai, o ovo dos cem anos em Guilin.










É igualmente extraordinário constatarmos que nos adaptámos à culinária picante, quando sentimos falta de algo nos momentos em que a culinária apimentada não é tão presente. Ainda que tivéssemos momentos difíceis pelo caminho, pois as especiarias de tempero são intermináveis, e algumas delas com efeitos particulares, como adormecimento da boca... Há um restaurante em Lijiang que não sairá das nossas memórias gustativas e que entrou directamente nos nossos catálogos pessoais de especiarias.




Os pratos mais pedidos ao longo da nossa viagem foram peixe (sobretudo de rio), carne de porco, galinha, beringela, cogumelos e outros legumes.



Também experimentámos os clássicos noodles. Prato tão nutritivo como delicioso, graças ao caldo que o compõe.



Apesar da repetição de ingredientes ao longo da nossa viagem, a confecção foi sempre diferente e, maioritariamente, deliciosa. No fim a mesa acabou sempre assim.