terça-feira, 26 de abril de 2016

Goa | Padarias

Talvez marca da influência portuguesa não poucas vezes durante a nossa estadia em Goa deparámo-nos com padarias.
Como esta em Goa Velha, a caminho da Capela da Nossa Senhora do Monte, que não chegámos a entrar.


Entrámos antes numa no centro de Goa Velha, onde comemos chamuças, mas também podíamos ter comido doces. Mesmo assim escrito em português, D O C E.
A presença portuguesa deixou de ser uma realidade, mas a influência está lá nas pequenas coisas do quotidiano.
 

Em Candolim, detivemo-nos nesta montra e comemos vários bolinhos, entre os quais o jalebi, especialidade do norte da India.
 

Em Panjim, em dia de Holi, a maior festa Hindu, a qual celebra a entrada na Primavera, depois do nosso corpo ter assumido todas as cores da tabela RGB, parámos na padaria Geeta.


Solicitámos um conjunto de bolinhos secos. Amêndoa, coco, baunilha. E seguimos rumo à árdua tarefa de retirar as cores da nossa pele.


Em Chandor, junto ao mercado, não aviámos nada mas chamou-nos à atenção o charme da padaria.
O interior cuidado contrasta com o exterior, a precisar de um retoque. 


Outra influência portuguesa, que também não chegámos a experimentar, são os licores.


Fica para a próxima.

Goa | Mercados

Passear pelas ruas da Ásia tem como garantia uma oferta sensorial.
Em Goa não é diferente.
Cruzamo-nos com frequência com bancas ambulantes, bancas improvisadas, pessoas sentadas a vender, mercados.
As frutas e os legumes são presença constante. Nos mercados a oferta é maior e é possível encontrar outros produtos.
Durante a nossa estadia cruzámo-nos com esta venda ambulante no bairro das Fontainhas em Panjim.
 
 
Também nas Fontainhas deparámo-nos com esta senhora a vender frutas junto a um bonito painel de azulejos portugueses.
Aqui provámos a sapotta, também conhecida como kiwi indiano.
 
 
Ao final do dia, na praia de Miramar, em Panjim, nada melhor do que uma água de coco.


Antes de apanharmos uma camioneta para qualquer ponto do Estado de Goa, aviamos frutas nas bancas junto ao terminal de camionetas de Panjim.


Na Velha Goa, nada como restabelecermos as energias depois do êxtase que o lugar oferece.


No mercado de Anjuna deparámo-nos com uma oferta imensa de especiarias.


Em Margão, terra das especiarias, deparámo-nos com as malaguetas a secarem ao sol.



Próximo de Quepém de repente assola-nos uma vontade imensa de comer melancia.


Em Chandor, depois de sairmos da Casa dos Menezes Bragança, parámos no pequeno mercado da terra. Deambulámos pelas bancas, interagimos com os locais, comprámos fruta. Um deleite.











Tamarindo


segunda-feira, 18 de abril de 2016

Goa - O Sumo da Fruta

Vegetação imensa e luxuriante. 
Árvores diversas. Muitas com frutos. Alguns ainda verdes, como as mangas que estão a iniciar a estação.
Vislumbramos jacas. Como não. O tamanho deste fruto não passa despercebido.


Coqueiros? Imensos. Por vezes até perder de vista.
Alguns carregados de cocos.
Um deslumbre.



Bananeiras aos molhos. E aos cachos.


Com tantas árvores de fruta não é de estranhar que os mercadinhos com frutas e as vendas de rua proliferem. É fascinante e uma alegria para os olhos e para o palato.
Não há como resistir. Nomeadamente às vendas de sumos onde vamos tropeçando.
No primeiro dia ainda pensamos nas questões de saúde. Assolam-nos questões tais como "em que condições são feitos os sumos e com que água?".
Ao segundo dia esses pensamentos foram-se. O privilégio de nos deliciarmos com os néctares locais, alguns novos, é maior.
Ainda assim alguns são absolutamente inócuos e podemos deliciármo-nos sem medos e culpas. 
É o caso da água de coco.
Quando chegámos à praia, de Vagator, no norte de Goa, quase deserta e cruzámo-nos com esta senhora, não resistimos.



Enquanto o sol das 10h da manhã já escaldava e tinha tornado o areal num braseiro literal, aproveitámos para nos hidratar e depois alimentar.




Numa visita rápida à praia de Candolim, apinhada de gente e longe do paraíso, antes de fugirmos da multidão, detivemo-nos na banquinha dos abacaxis.
Ali a constituição dos sumos não é um dedo do sumo da fruta e o resto água. 
O processo passa antes por se comprar o abacaxi inteiro, o qual é devidamente descascado, cortado e espremido. A parte sobrante, que já não é necessária para o sumo, levamos para ser comida.



Toda esta oferta maravilhosa está longe de ser comum no nosso país. Contudo, não é propriamente nova. Mas eis que nos cruzamos com algo totalmente novo.
Uma maquineta com umas correias. O que é aquilo? 
Curiosidade levada ao mais alto nível.
Máquina de fazer "bamboo juice", respondem-nos. 
Pensei logo que não voltaria a casa sem experimentar.
Em português parece-me que o nome mais apropriado talvez seja sumo de cana de açúcar.
Já tinha provado o caldo de cana brasileiro, mas nunca tinha visto a fazer, menos ainda desta forma.





O sumo é maravilhoso. Doce, sem ser excessivo, fresco e muito nutritivo. Gulosíssimo.
Dizem-nos que é sobretudo popular entre a comunidade hindu. Os restantes não sabem o que andam a perder.

  
Para continuar a ter sorte de continuar a usufruir destas descobertas e delícias pelo mundo estou tentada a pôr esta instalação frutícola ao estilo indiano na traseira do meu carro. Para evitar o mau olhado, lima e malagueta é a receita.


quarta-feira, 13 de abril de 2016

Goa - Onde a Índia é Mais Portuguesa

Olhamos para a ementa e cruzamo-nos com a palavra “caldo verde”. Confirmamos. Caldo verde. Mais outras comidas familiares.
Lá fora está um clima tropical. Aquele calor, acompanhado de humidade, que cola a roupa ao corpo. Temos aquela sensação quente que, apesar de desconfortável, deixa-nos felizes.
Para além de caldo, a presença do verde, em forma de coqueiros não deixa dúvidas, estamos nos trópicos. Não em Portugal. Embora Portugal já tenha estado naqueles trópicos. Durante séculos. Vários.
Lá fora e lá dentro, do restaurante, é Goa. Não a Goa do tempo que Portugal era do Minho a Timor. Não a Goa de um dos 451 anos, entre 1510 e 1961, em que os portugueses governaram a região, mas antes a Goa do mais pequeno Estado Indiano num dia do início da Primavera de 2016.
É emocionante estar ali. Naquele sítio com uma história improvável, que no entanto perdurou durante longos quatro séculos e meio e cuja herança ainda hoje ali persiste.
Não há como não nos surpreendermos e comovermos com a influência portuguesa. Dos topónimos à arquitectura, passando pela gastronomia e religião.
Não nos iludamos, o paradigma global não é uma característica contemporânea. Lá longe, no tempo e no espaço, os nossos antepassados traçaram os primeiros passos da globalização. Levaram produtos de umas coordenadas geográficas para outras. Cruzaram influências e miscigenaram culturas. De tal modo que o que hoje damos como originário de uma determinada geografia nem sempre o foi.
Durante a governação portuguesa na região fomos levando ingredientes até então estranhos, e actualmente fortemente presentes, como o tomate, caju, batata, beringela, abacaxi, mamão, goiaba e coentro. Muitos deles fizeram o trajecto do Brasil para Goa, mas o percurso inverso também aconteceu com, por exemplo, a manga, fruta nacional da Índia.
Alguns dos alimentos, como os tomates e as batatas, até recentemente não eram aceites pelos Hindus.
Contudo, a mais significativa introdução culinária efectuada pelos portugueses foi a malagueta, originária das Américas mas que se propagou intensamente e revolucionou toda a cozinha indiana.
Não deixa de ser curiosa esta introdução fulcral na terra das especiarias. Inclusivamente sempre foram as especiarias e a religião os maiores interesses dos portugueses na Índia. Comercializar as primeiras, as quais à época eram mais valiosas que o ouro, e propagar o catolicismo.
A religião sempre influenciou a forma como se come. Os portugueses quiseram que os indianos aceitassem a sua cozinha. Apesar de não ter sido fácil, conseguiram. A cozinha goesa absorveu assim a influência portuguesa, nomeadamente ao nível dos ingredientes. Foi introduzida a carne de vaca e porco, consideradas impuras e tabus entre os hindus goeses.
Inúmeros pratos goeses são à base de porco.
O chouriço goês é um exemplo. Picante, como todos os outros pratos goeses, comemos assado no restaurante Ferradura (Horse Shoe), à beira do rio Ourém,

 

no pão - o clássico goês pão com chouriço - no George, no sopé da igreja de Panjim, 


e no pulao de ervilhas e chouriço, no Venite, implantado numa casa de traça colonial, no bairro de S. Tomé em Panjim.


O sarapatel feito com o sangue do porco, as suas miudezas e temperado com malagueta, cravinho, açafrão, canela, coentros, cominhos, gengibre, alho, tamarindo e vinagre, é outro exemplo de um prato de porco. Adoramos esta iguaria goesa e regozijámos a saboreá-la no Viva Panjim, nas Fontainhas.

 

Enquanto adiávamos a experiência do vindaloo de porco, culpa dos locais que nos foram atemorizando com os níveis de picante, saboreamos no Ferradura um porco em vinha d’alhos ao estilo português.

 

Quando a coragem não fugiu atacámos e sobrevivemos com distinção ao vindaloo de porco do Verandah, nas Fontainhas.

 


A designação vindaloo resulta da contracção da expressão vinha d'alhos, tempero levado pelos marinheiros portugueses na época dos descobrimentos e posteriormente adaptado ao gosto local, que o complementou com malagueta, vinagre (ingrediente usado em muitos outros pratos goeses) e diversas especiarias.
Onde a herança portuguesa é nitidamente evidente é no pão. O pão goês não tem qualquer semelhança com o nan ou o roti, pães tipicamente indianos. É antes irmão gémeo do pão português.
No George fomos ao céu com a língua de vaca e regressámos à terra para continuarmos a deliciar-nos com outras iguarias, como o magnífico pulao, caril de frango e cafreal de frango, que também experimentámos no Venite.

 
 Cafreal de frango, pão goês, pulao, caril de frango e língua de vaca (por ordem dos ponteiros do relógio)

 
Cafreal de frango do Venite

Supõe-se que o cafreal  teve origem em Moçambique e que deriva do frango piri-piri. Pode ser de carne, peixe ou vegetais e é feito com uma masala - termo usado na culinária indiana para descrever a mistura de duas ou mais ervas ou especiarias - de coentro, cebola, alho, gengibre, canela, malagueta, pimenta, noz-moscada, cravo-da-índia moído e..., ufa, sumo de lima. 
Comer pratos destes é mergulhar literalmente num caldeirão cultural e ter uma explosão de sensações. 
Outro prato tradicional da culinária indo-portuguesa de Goa (e também de Diu e Damão) é o balchão, confeccionado com balichão, um condimento oriundo da culinária de Macau. Devorámos um de camarão no Ferradura e no Verandah.

 

O xacuti é mais outro prato da culinária indo-portuguesa. É frequentemente confeccionado com carne de frango, cabrito ou bovino, podendo também ser preparado com peixe. Inclui uma grande variedade de ingredientes, tais como coco, açafrão, cominhos, cravinho, gengibre, pimentão, canela, miolo de amêndoa, alho, pimenta preta, malaguetas, coentros, mostarda em grão, caldo de carne, vinagre e sal.

 

Comemos o xacuti de frango do Viva Panjim e do Ferradura. Mais uma vez, a intensidade de sabor é enorme e todo o sistema sensorial é desperto.
Também de influência portuguesa deliciámo-nos com um xec xec de caranguejo no Viva Panjim.

 

O prato menos picante que degustámos foi os filetes de tubarão com molho de pimenta de limão.

 

No capítulo da doçaria há igualmente uma grande influência lusa. A sobremesa goesa mais famosa é a bebinca, que experimentámos por diversas vezes e não encontrámos uma igual. Talvez a melhor tenha sido a do Viva Panjim.

 

Esta sobremesa de sete camadas é elaborada com numerosas gemas de ovo, açúcar, cardamomo, leite de coco, farinha e manteiga.
Às nossas bocas foram também parar, advertidamente, a outros doces familiares, como o Bolo Sem Rival (de caju), a serradura e pudim de ovos.



As sobremesas ajudam a apaziguar a louca e intensa, ainda que também muito deliciosa, viagem pelos sabores goeses. Pois, apesar da herança portuguesa, a característica maior da cozinha goesa, e indiana em geral, é ser intensamente condimentada e picante, o que para um paladar ocidental é um constante desafio.
Mas não é de desafios que é feita a vida?
Que seja repleta de desafios tão deliciosos como estes.