Já conhecia o seu Cantinho. Bem
como a Pizzaria. Estava em falta o Café e o Belcanto.
Há cerca de dois anos que pensava
fazer uma incursão a este último, mas essa vontade, sem razão nenhuma, foi sendo
adiada, até finalmente ser concretizada recentemente.
As minhas referências sobre a
cozinha de José Avillez sustentavam-se no trabalho que elabora no Cantinho do Avillez – que é do meu
agrado, na Pizzaria Lisboa – que não
adoro, e nas criações que tem vindo a desenvolver nas várias edições do Peixe em Lisboa, que me têm parecido
muito bem.
Estava ciente que o que ia
encontrar no Belcanto não tinha
correspondência com a cozinha desenvolvida nos outros contextos. Por se tratar
de um restaurante de alta cozinha de autor, com uma estrela Michelin, teria que
apresentar necessariamente uma cozinha mais desenvolvida e criativa. Assim é. Para além de cuidada, surpreendente,
entusiasmante, saborosa e apetitosa.
O restaurante, adicionalmente à
alta qualidade, destaca-se por pormenores que fazem toda a diferença.
Após instalarmo-nos no espaço
clássico, sofisticado e confortável, que alberga o restaurante, optámos pelo
Menu dos Clássicos, que inclui alguns dos pratos que se têm mantido ao longo
dos tempos, aspecto que nos pareceu excelente para uma boa primeira introdução.
Antes dos pratos do menu
propriamente dito chegarem à mesa, os empregados, irrepreensíveis, foram-nos
entretendo com vários mimos que compõem o pré-couvert
e couvert.
Rendi-me de imediato. Muito antes
de chegar o primeiro prato do menu. Tivemos assim um excelente princípio, elucidativo
da abordagem do chef José Avillez à arte culinária.
A refeição começou de forma
explosiva com um aperitivo clássico, o Porto Tónico, apresentado numa esferificação
dos líquidos e servido numa colher sobre uma “Pedra da Calçada”, um ícone da
cultura portuguesa.
Prosseguiu para um dos elementos
de marca de José Avillez, as Azeitonas3. São ao “cubo” pois são
apresentadas três diferentes formas de azeitona. As duas primeiras vêm em
colheres dispostas num tronco de oliveira (outro símbolo da nossa cultura). Uma
é azeitona preta envolta em tempura, outra é uma esfericação de sumo de
azeitona verde que rebenta na boca, a famosa azeitona explosiva. A terceira
variante é um Dry Martini invertido. Trata-se de uma criação notável, em que em
vez de ser um gin decorado com azeitona, como no clássico Dry Martini, é sumo
de azeitona decorado com uma esferificação com gin no interior. A falsa azeitona
explode na boca e liberta o gin. Uma experiência extraordinária.
De seguida veio o segmento do
“nem tudo o que parece é”, composto por um falso Ferrero Roche, que na verdade
é foie gras envolto numa capa de manteiga de cacau e avelã e folha de ouro
comestível a fazer a vez da prata dourada do bombom original. Tivemos ainda
oportunidade de comer “frango assado”, que tem o sabor do mesmo mas que não é
mais do que duas finas fatias de pele de frango crocante com recheio de mousse
de requeijão. E nesta secção das ilusões deliciámo-nos ainda com o snack “arroz
de marisco”. As três interpretações são incríveis a todos os níveis, desde a
criatividade, minúcia plástica e autenticidade do sabor.
Chegam entretanto quatro
qualidades de pão (branco, de azeitonas, sementes e broa de milho) e três
manteigas, dos Açores, noz e fumada com flor de sal.
De seguida foi-nos servida
Sapateira com Tupinambo. Fresca, diferente, interessante e com um sabor intenso.
Entrámos então no menu, com A horta da galinha dos ovos de ouro, com
ovo cozinhado a baixa temperatura e envolvido em folha de ouro comestível,
cogumelos, pão crocante com tinta de choco, cogumelos, toucinho. Excelente
conjugação de sabores e texturas.
De seguida veio o Mergulho no mar, prato de robalo
escalfado em água do mar, bivalves e algas. Muito equilibrado.
Prosseguimos com o Leitão revisitado, leitão pincelado com
molho de pimenta, coração de alface, espuma de laranja e umas batatas fritas divertidamente e criativamente embaladas em folha de arroz. Carne perfeita. Macia e com a pele
crocante. Uma delícia.
Por fim, de sobremesa comemos Tangerina. Esta refrescante
sobremesa é na verdade uma falsa tangerina, pois trata-se de uma esfera de sumo
gelado de tangerina recheada com espuma de tangerina, acompanhada de sorvete e
gomos de tangerina. É uma síntese do fruto em diversas texturas e
temperaturas. Excelente.
Foi uma das melhores refeições que tive até hoje. Excelentes ingredientes, comida bem confeccionada, interpretações excepcionais, inovadoras, técnica apurada, sem o sabor ficar compromentido.
Foi uma das melhores refeições que tive até hoje. Excelentes ingredientes, comida bem confeccionada, interpretações excepcionais, inovadoras, técnica apurada, sem o sabor ficar compromentido.