A gastronomia está em todo o lado.
Vejamos o livro que actualmente leio, A Espuma dos Dias, de Boris Vian.
Logo ao início há uma referência a Jules Gouffé (1807-1877), autor do Livro da Cozinha, e celebrizado pela cozinha requintada que criou, ao ponto de ter ficado para a história com o petit nom "l'apôtre de la cuisine décorative".
in http://en.wikipedia.org/wiki/Jules_Gouff%C3%A9
Essa referência surge a propósito de Nicolas, cozinheiro do personagem principal, Colin, anunciar que para a entrada dessa noite plagiou o Gouffé, nomeadamente a obra da página 638, um paté de enguia, cuja passagem em questão se propôs ler ao seu patrão.
Em discurso directo. “Faça uma base de paté quente, como para uma entrada. Prepare uma enguia grande e corte-a em postas de três centímetros. Ponha as postas de enguia numa caçarola, com vinho branco, sal e pimenta, cebola às rodelas, ramos de salsa, tomilho, louro e um dente de alho. (…) Leve a cozer. Retire a enguia da caçarola e coloque-a numa frigideira. Passe o cozimento por uma peneira de seda, acrecente erva-espanhola e deixe apurar até o molho se agarrar à colher. Passe pela peneira, cubra a enguia com o molho e deixe ferver durante dois minutos. Disponha a enguia no paté. Faça um cordão de cogumelos à volta do paté, ponha ao meio um feixe de lácteas de carpa. Tempere com a porção do molho guardada para o efeito”.
Mais do que estar em todo o lado, a gastronomia é intemporal. E imaginativa e elaborada há mais tempo do que se possa supor.