Como foi possível constatar no post anterior, há alguns paralelismos gastronómicos entre os três países do Cáucaso. Porém cada um se destaca também por alguns aspectos particulares.
Na Arménia regozijámo-nos com o delicioso pão adocicado Gata. Foi em Geghard, depois de vermos este mosteiro, património mundial da Unesco, que nos cruzámos com uma banca composta por esta iguaria. Como são de proporções avantajadas e não sabíamos se seria uma boa aposta, decidimos comprar um quarto de um. Porém, depois de provarmos, bem nos arrependemos de não termos aviado um inteiro. Simplesmente delicioso.
Em passeio pelo Sevan, o maior lago do Cáucaso e um dos lagos localizado em maior altitude do mundo, confirmámos que a Arménia ainda olha para o passado com saudade e continua a ter como grande amigo a Rússia, ou melhor a CCCP, que é como quem diz a URSS. Então não é que nos cruzámos com um gelado com esse nome e com o logótipo da foice e do martelo?
Apesar de o tempo não estar para gelados, mas mais para o gelado, não resistimos a regressar ao passado e deitarmos abaixo, literalmente, a CCCP.
Também do lago Sevan, saboreámos, num dos restaurante da moda de Yerevan, a truta (Ishkhan khoravats), considerada um dos pratos nacionais.
Pela conturbada história política, a Arménia, apesar de ser um dos países mais antigos do mundo, por ter sido diversas vezes subjugado, não conformou uma identidade única, mas antes foi absorvendo influência, mesmo de países rivais, situação com reflexos na gastronomia. Assim, é comum depararmo-nos com a cozinha Arménia ocidental, a qual apresenta um conjunto de influências da cozinha turca e do médio oriente.
Foi essa cozinha que experienciámos, entre outros locais, no Anteb, em Yerevan, onde chegou à mesa um pão em forma de balão, fininho e oco por dentro, tabouleh, hummus, kibbeh, dolma (arroz envolvido em folhas de vinha), mas também barbecue de carne e de legumes, como beringela, pimento e tomate.
O barbecue (khoravats) tanto de carne como de vegetais, é muito típico e é considerado o prato nacional da Arménia.
Para além da referida cozinha Arménia ocidental, existe também a variante cozinha Arménia do Leste, a qual incorpora influências Russas e da Geórgia.
Mas algo distintivo é, o já referido, lavash, o pão Arménio. É verdadeiramente singular e contém uma grande personalidade. É uma delicia saboreá-lo, mas também ver o bailado que é manusear este pão, por quem sabe, no mercado GUM.
Uma imagem também marcante, são as pessoas a transportarem este pão como se de um lençol acabado de dobrar se tratasse.
Os frutos secos e o café Arménio (soorch), a bebida mais popular da Arménia, são outras iguarias. O GUM é o local perfeito para adquirir estes produtos.
E o soorch é a bebida ideal para acompanhar uma baklava, outro doce de origem turca, que é típico em vários países, nomeadamente na Arménia.
Ainda no campeonato das bebidas, os vinhos da vizinha Geórgia têm fama, mas a Arménia também tem uma importante produção vinícola. Fomos à adega do Hin Areni e fizemos uma prova de vinhos. Apesar do vinho tinto ser o mais distintivo, já que as uvas Areni beneficiam dos Verões quentes e Invernos duros, também há produção de brancos e rosés. Pareceu-nos muito bem, assim como a paisagem das vinhas, as quais apresentam como pano de fundo as massivas montanhas, marcadas pela aridez e imponência.
Mas o que é mesmo famoso é o conhaque (konyak) Arménio, cuja marca mais famosa apresenta o nome do bíblico monte Ararat.
A fama vai além fronteiras, fazendo sucesso na Rússia e na Geórgia, mas também entre figuras históricas célebres. Ao que parece Winston Churchill preferia este ao cognac francês, pelo que, ao que consta, Estaline costumava enviar-lhe konyak Ararat.
Da Arménia para além de tudo o já referido, registo para a alta qualidade dos produtos locais, sejam as frutas ou os vegetais, os quais crescem em pequena escala e sem pesticidas. Vantagem de se ser um país pequeno e, ainda, pouco aberto ao resto do mundo.