segunda-feira, 27 de março de 2017

Taberna do Mercado | Londres

Quando de viagem não sinto necessidade de me alimentar de comida portuguesa. As saudades não se impõem em tão pouco tempo e, por outro lado, na minha concepção, viajar é descobrir coisas novas, nas quais se incluem novos sabores.
Contudo, por vezes, algo da gastronomia portuguesa é um destaque na cena gastronómica do local onde estamos de viagem e, nesse caso, vale a pena quebrar a regra.
Foi o que se passou em Londres, onde entrámos num sítio todo ele a transpirar portugalidade. Loiça Vista Alegre, tampos das mesas com mármores de Estremoz, cadeiras modelo Gonçalo (a mais famosa e icónica cadeira de esplanada portuguesa), garrafeira com vinhos e outras bebidas de marcas portuguesas, outros produtos portugueses expostos, como o sal (Salmarim) e o azeite.

 


Todas estas referências portuguesas encontram-se no Taberna do Mercado, no Old Spitalfields Market, em Shoreditch, na zona leste de Londres. Este é o espaço actual de Nuno Mendes, o chef português que conquistou os londrinos e é uma referência gastronómica da capital britânica. Depois dos seus projectos anteriores, no quais se destaca o Viajante - com o qual logo no primeiro ano ganhou uma estrela Michelin -, não mais saiu da cena gastronómica londrina.
Assim, estando em Londres não perdemos a oportunidade de petiscar, num ambiente informal e descontraído, ao belo estilo português. É uma cozinha de partilha, a desenvolvida neste espaço onde rapidamente os empregados começam a falar português connosco. 
Instalámo-nos na sala principal (há mais um espaço ao estilo de esplanada fechada, onde estão as cadeiras Gonçalo) e logo fizemos a escolha dos pratos.
Tostas de lardo fumado na casa. Lardo é uma parte da gordura do porco, em que os italianos são exímios a preparar.

 

Pão com azeite, conserva caseira de mexilhão com cebola (Mussels, pickled onions and grilled sourdough) e conserva de cavala feita na casa com refogado de tomate e presunto (Mackerel, tomato sofrito).

 


Green bean fritters and bulhão pato, que é como quem diz peixinhos da horta, embora com uma polme mais à tempura japonesa, acompanhados de um caldo à Bulhão Pato.


Salada de polvo com pimento (Octopus and pepper salad).


Choco com pezinhos de coentrada (Cuttlefish and pig trotters coentrada).

 

Para rematar podia ter sido um pão-de-ló, mas optámos pelo pudim feito de presunto, o Abade de Priscos, envolvido numa calda ligeira de vinho do porto e canela.


Apreciações. Estava tudo bom. A fazer jus ao conceito de captar e reinterpretar os ingredientes, pratos e sabores portugueses.
Destaque para o lardo, que adoro. Para o encontro inusitado dos peixinhos da horta com o caldo à Bulhão Pato, o que transforma este snack num dos ex-libris da casa.
Para o cruzamento de sabores do mar e da terra conseguido pela cavala com o presunto. 
Para o casamento, também do mar e da terra, mas bem mais arriscado e difícil, do choco com os pézinhos de coentrada, onde se obtém uma união feliz e cheia de personalidade.
E, claro, para uma das sobremesas sensação, o Pudim de Abade de Priscos. 
Pontos negativos, a quantidade versus preço de algumas das propostas. É certo que apesar de ser uma Taberna não estamos em terras lusas, mas ainda assim. 
Outro aspecto a assinalar é, apesar do ambiente informal, não se justificar apresentar pratos lascados/falhados, comprometendo a apresentação e a representação da marca Vista Alegre
A partir pratos que continue a ser metaforicamente e pela positiva, como tão bem conseguem fazer entre tachos.