Numa área da cidade marcada pelo passado industrial e operário, nos últimos anos, surgiram alguns lugares que apontam que, no futuro, Lisboa possa vir a ter uma nova centralidade no lado oriental. Depois da Expo 98, já quase há 20 anos, que serviu de mote para a renovação urbana do extremo mais oriental da cidade, ficou por intervir numa vasta área entre Braço de Prata e Santa Apolónia, onde se inclui Marvila, Poço do Bispo, Beato e Xabregas.
Numa apropriação transitória, que tem permanecido, a Fábrica Braço de Prata tem dado na última década uma dinâmica cultural e noctívaga à área. O Teatro Meridional é outro polo cultural desta área.
Por outro lado, algumas iniciativas isoladas, como a recente belíssima iniciativa da Pataca Discos, a qual promoveu uma festa, designada Sarau de Natal, onde apresentou um conjunto de concertos com as bandas da editora no Ateneu da Madre de Deus, procuram de uma forma voluntária dar visibilidade aquela área e deslocar o eixo cultural para outras coordenadas.
A oferta de restauração também tem vindo a aumentar e a diversificar. Exemplo disso são os vizinhos restaurantes Dinastia Tang e o Entra.
Foi a este último restaurante, o Entra, que regressei recentemente e confirmei a ideia da primeira experiência por lá, isto é, que se trata de uma opção diferente e muito válida.
No Entra, depois de entrarmos só temos que nos sentar e entregar. O conceito baseia-se num menu surpresa, que vai variando, julgo que diariamente, e inclui duas entradas, um prato de peixe, um prato de carne e duas sobremesas.
A única pergunta que fazem é se temos alguma intolerância alimentar ou há algum alimento que não gostemos. De resto, é esperar que comecem a chegar os pratos à mesa.
Em primeiro lugar, como couvert, apresentaram-nos um paté de grau e pão.
De seguida, como entrada, chegou a dupla de folhado de legumes com mozzarela e mexilhões com tostada. Os legumes surgiram no ponto e com qualidade. Os mexilhões estavam saborosos sem transcenderem.
De seguida chegou o prato de peixe, atum com risoto negro e salada de beterraba. Apenas um reparo ao ponto do atum, o qual devia estar menos passado.
O prato de carne apresentado foi lombo de porco com puré de ervilhas. Carne macia e puré cremoso.
A sobremesa apresentada, em versão dupla, foi creme brulée e abacaxi grelhado com gelado de limão. Ambas as sobremesas estavam bem conseguidas.
Agrada-me o lado despretensioso deste espaço e o perfil surpresa da sua oferta. Por outro lado, contrariamente ao que se passa em muitos restaurantes, o preço (19.5€ sem bebidas) é honesto e ajustado à oferta. Sem ser excepcional é uma aposta muito interessante, pelo que vale a pena mudar de rota e ir até à parte oriental da cidade de Lisboa.