terça-feira, 23 de junho de 2015

Belcanto

No final como que ficámos com uma obra do pintor norte-americano Jackson Pollock à nossa frente.
Não foi a raia à Pollock, um dos pratos desenvolvidos por José Avillez, mas sim o prato final depois de termos comido a fatia de bolo de aniversário que gentilmente o restaurante Belcanto, de José Avillez, ofereceu no final da refeição que ali tivemos.
Um ano e pouco depois regressei ao Belcanto. Entretanto o restaurante foi premiado com mais uma estrela Michelin, possuindo agora duas estrelas, e entrou nos 100 melhores restaurantes do mundo, com o 91º lugar, premiação atribuída pela The World’s 50 Best Restaurants.
Desta vez optámos pelo Menu Maresia.
À semelhança da vez anterior, que degustámos o Menu dos Clássicos, a refeição iniciou-se com a reinterpretação do Porto Tónico, um aperitivo clássico apresentado em forma de esferificação dos líquidos e servido numa colher sobre uma “pedra da calçada”.
Tivemos o privilégio de uma vez mais deliciarmo-nos com as Azeitonas3, ao cubo por serem apresentadas de três formas diferentes (explosiva, dry Martini invertido e tempura de azeitona), cada uma mais original e saborosa que a outra.
De seguida veio o segmento enigmático da noite, do “nem tudo o que parece é”. Composto pelo falso Ferrero Roche, de foie gras envolto numa capa de manteiga de cacau e avelã e folha de ouro comestível, pelo “frango assado” com recheio de abacate e requeijão, piripiri e limão e pelo rissol de camarão.
Após ser apresentada a trilogia de manteigas e o pão, tudo fantástico, veio o primeiro prato do menu, a Rebentação. Magnífico na concepção, sabor e apresentação.
Este prato, constituído por bivalves, gamba da costa, “água do mar” e “areia” de algas, para além de maravilhoso no sabor e texturas, é apresentado de uma forma extraordinária. A perfeição é tal, que parece que todos os sabores e acções do mar vieram ter connosco.
O prato seguinte foi o Cozido à Portuguesa de carabineiro do Algarve. Composto pelo caldo do cozido, de sabor muito forte, sobrepondo-se por vezes aos restantes sabores, nomeadamente ao carabineiro.
Contudo, a mim não me desiludiu.
De seguida saboreámos umas pataniscas de bacalhau com arroz de feijão encarnado, que se fizeram ainda acompanhar de samos de bacalhau. Prato tradicional irrepreensível.
A anteceder a sobremesa foi-nos servida uma pré-sobremesa à base de frutos silvestres em várias texturas.
Por fim, saboreámos "Chocolate, banana e amendoim”, uma sobremesa de 2014. Caracteriza-se pela simplicidade e, simultaneamente, pela criatividade (o amendoim é uma criação perfeita) e diversidade de texturas.
A primeira experiência que tive no Belcanto foi mais impressionante e surpreendente, porque tudo foi novo, ainda assim contínuo a considerar que se trata de uma experiência magnífica. Por essa  razão a sala estava cheia, sobretudo de estrangeiros, os quais cada vez mais têm na sua agenda de visita a Lisboa uma imperdível ida ao restaurante português mais prestigiado.

quinta-feira, 11 de junho de 2015

Meia-Maratona Por Madrid

Madrid, final de Abril de 2015.
As previsões apontavam que a Primavera iria retroceder ao Inverno. Precisamente no momento que justificou a nossa ida à capital espanhola, isto é, à hora da EDP Rock ‘n’ Roll Madrid Maratón & 1/2. Mas nada abalaria a nossa primeira internacionalização. O objectivo era cumprir, e foi, os 21 km da meia-maratona que decorreram pelas ruas de Madrid, sempre com o apoio entusiasmante dos madrilenos.
Uma vez que qualquer atleta que se preze tem cuidado com a alimentação, esta vertente não foi descurada, pelo que fizemos também uma meia maratona gastronómica em Madrid.
Assim, no pré-corrida o primeiro abastecimento gastronómico foi ainda no recinto onde levantámos os dorsais da corrida, no qual a organização do evento preparou uma Pasta Party.
O 2º abastecimento deu-se no Mercado de San Miguel. Este abastecimento foi composto por diversas tapas, tábua de queijos, presunto, vermute e  vinho tinto.
Ainda que tenha sido um abastecimento rico e saboroso, sentimos necessidade de, umas centenas de metros à frente, reforçarmos a energia com os churros com chocolate quente da Chocolateria de San Ginés.
Um pouco mais tarde, fizemos o penúltimo abastecimento gastrónomico pré-corrida no Yakitoro. Este restaurante, próximo da Gran Via e a caminho da Chueca, é propriedade do mediático cozinheiro Alberto Chicote, que apresenta um programa de comida na televisão espanhola.
Inspirado na tradicional taberna japonesa de yakitori (espetadas), o restaurante apresenta uma cozinha de fusão muito apoiada na confecção na brasa com carvão, dispondo para o efeito de vários grelhadores no meio do restaurante.
Com um interior descontraído, muito bonito e criativo (destacam-se as mesas com área de refrigeração de bebidas) , o Yakitoro é o sítio ideal para ter uma refeição saborosa e partilhada.
O menu está dividido em temas em função da origem dos ingredientes base dos pratos. Assim, há as opções Da Terra, Da Água, De La Finca e De la Granja, para além das Yakibokatas, pequenas sanduiches, e as sobremesas.
Da Terra saboreámos dados de berenjenas en tempura com miso rojo y pimentón e setas shitakes frescas, salsa de ajo cocido y virutas de bonito seco ahumado (2ª foto em baixo).
Do Mar pescámos e deliciámo-nos com tataki de atún con ajo blanco (foto de cima prato mais à direita e em cima), ceviche de corvina com cilantro, aji amarillo y su leche de tigre,
buñuelo de bacalao com mahonesa de yuzu y chili,
e Yaki-Shabu de salmón com salsa agripicante.
Directamente De la Finca para a mesa veio um pollo frito crujiente con salsa agridulce cañí.
E De la Granja degustámos albóndigas picantes de pollo y tocineta ibérica,
e umas deliciosas entrecostillas de buey wagyu lacadas a la brasa.
Deliciámo-nos ainda com uma yakibokata de tiras de ternera com salsa barbacoa ibérica.
De sobremesa rejubilámos com um gelado de morango e wasabi com bolacha de gengibre e crumble de maçã com gelado de baunilha.
Já no dia seguinte, cerca de uma hora e meia antes da meia-maratona fizemos o último abastecimento pré-corrida num bar junto ao nosso hotel. Aquela hora, naquele espaço, estava congregada a fauna humana mais diversa possível. Por um lado, os atletas que daí a pouco tempo estariam a correr pelas ruas de Madrid, por outro, os notívagos que aquela hora da manhã continuavam a festa da noite e a beber cervejas. Provavelmente estes últimos, quando os primeiros, nós, começaram a correr estavam a lavar os dentes para se irem deitar. A diversidade a reinar.
21 km percorridos em passo contínuo, umas vezes mais firme do que outras, terminámos felizes pela concretização do objectivo desportivo a que nos propusemos e de termos sido parte deste belo e emocionante evento desportivo.
Depois de palmilharmos a cidade a correr, continuámos o périplo de outra forma. Depois das energias dispendidas, fomos fazer o primeiro abastecimento pós-corrida ao Mercado de San Ildefonso, na Calle Fuencarral.
Este mercado, num estilo trendy, é um dos mais recentes de Madrid. Ali, repusemos energias com vários petiscos.

Tostas de anchovas e pimentos, tostas de bacalhau, tostas de salmão e abacate,
entrecosto, ovos com cogumelos, ovos com chouriço,
umas magníficas ostras.
Tudo delicioso.
Depois de um passeio pela cidade e da visitação à exposição de Raoul Dufy no Museu Thyssen, fomos até à Plaza Santa Ana para fazermos o último abastecimento, numa hamburgueria, antes de regressarmos para Portugal.
Isto de fazer duas meias-maratonas num fim-de-semana só está ao alcance dos grandes atletas. Fomos grandes. Muito grandes.