terça-feira, 4 de março de 2014

Astrid & Gastón em Madrid

Gastón Acurio é uma estrela no Peru. Apesar de poucos peruanos terem oportunidade de irem aos seus restaurantes, pelo mediatismo do chef Peruano, que tem programas na televisão, colaborações em revistas, vende livrinhos com receitas nas bancas de jornal, todos o conhecem.
Conheci o fenómeno quando fui de viagem ao Peru. Acabei por não ir ao seu restaurante em Lima, mas adquiri os tais livrinhos com receitas numa banca de jornais na cidade nortenha de Chiclayo.
Desde então tenho estado atenta a algumas das movimentações deste embaixador da cozinha peruana.
Tendo perdido a oportunidade de conhecer a sua cozinha em Lima, ocorreu-me que a forma mais fácil de me redimir dessa situação era fazer uma incursão até seu restaurante em Madrid.
Assim foi. Recentemente deslocámo-nos até ao A&G, em Madrid.
Gastón opera em conjunto com a sua mulher, de origem alemã, Astrid Gutsche. Daí o nome do restaurante, com as iniciais de ambos.
A ansiedade era grande.
Com algum tempo de antecedência fizemos a reserva no restaurante e optámos pelo menu de degustação tradição. É ainda oferecida a possibilidade de optar pelo menu de degustação Inovação ou pela escolha à carta.
O restaurante, localizado no elegante bairro de Salamanca, apresenta uma decoração minimalista mas acolhedora e intimista. A primeira sensação é que se entra num espaço de luz reduzida e, por momentos, antecipamos algum desconforto visual. Mas logo após estabelecidos à mesa percebemos que a distribuição da iluminação, com luzes directas em cada mesa, dão o efeito de luz reduzida na envolvente mas em contraponto iluminam o essencial.
Arrancámos a refeição com um pisco sour, o cocktail típico peruano. Perfeito.

O couvert, elegantemente apresentado sobre uma pedra, foi composto por folhas de arroz, duas qualidades de pão, um de sementes e outro de batata, e manteiga de orégãos.Destaque para a textura e sabor da manteiga, que se derretia no pão ainda quente, para o pão de batata e para as folhas de arroz.
 
De seguida, como oferta do chef, veio um tártaro de polvo com batata. Um excelente prenúncio. A textura do polvo e o tempero começaram a entusiasmar as papilas gustativas.

Como primeiro prato do menu de degustação chegaram à mesa os tradicionais ceviche e o tiradito. Ambos muito frescos. O leche de tigre e a qualidade do peixe emocionaram.

O prato seguinte foi Causa. Surpreendeu logo pela forma como foi apresentada, diferente da clássica, e continuou a surpreender pela qualidade dos ingredientes. A combinação do atum (muito macio), da batata prensada, do ovo de codorniz e das sementes de mostarda apresentou-se perfeita.

Começámos a ter receio que este momento de deleite passasse rapidamente demais…
Sem mais ansiedade, de seguida veio Anticucho clássico. O menu base prevê que seja de coração de vaca, mas atendendo às susceptibilidades que este ingrediente provoca, ao inicio da refeição, é nos questionado se pretendemos manter esta opção ou trocar por polvo. Vieram as duas possibilidades para a mesa e ambas, feitas na brasa, surpreenderam pela qualidade e maciez da textura. Fizeram-se acompanhar de uma qualidade de batata peruana e milho frito salteado em manteiga.










O prato seguinte foi Corvina al Vapor, ao “estilo suado”, com cebola, tomate e yuca (tubérculo). Apesar de muito saboroso, nomeadamente o caldo, a corvina apresentou-se ligeiramente seca.

Por fim, veio Ají de Gallina, com galinha, batatas violetas, azeitonas desidratadas e ovo de codorniz. Apesar de bem confeccionado, foi o prato que menos gostei.

A rematar a refeição, de sobremesa, foram apresentadas duas em uma, Picarones e Suspiro. Os picarones surgiram com uma calda de verbena e gelado de mel. Ambas estavam boas.

A fechar a refeição ainda houve tempo para um mimo do chef.
Tenho que assumir. Foi uma noite feliz.