Depois de entrarmos no mercado de Lagos, ao cimo das escadarias encontra-se um exerto do Caminho da Manhã da Sophia de Mello Breyner Andresen.
"...vai pelas pequenas ruas estreitas, direitas e brancas, até encontrares em frente do mar uma grande praça quadrada e clara que tem no centro uma estátua. Segue entre as casas e o mar até ao mercado que fica depois de uma alta parede amarela. Aí deves parar e olhar um instante para o largo pois ali o visível se vê até ao fim. E olha bem o branco, o puro branco, o branco da cal onde a luz cai a direito. Também ali entre a cidade e a água não encontrarás nenhuma sombra; abriga-te por isso no sopro corrido e fresco do mar. Entra no mercado e vira à tua direita e ao terceiro homem que encontrares em frente da terceira banca de pedra compra peixes.(...)"
Não fomos nem ao terceiro homem nem à terceira banca. Fomos antes à banca do homem do marisco, num dos cantos do piso térreo, em busca de lagostins. À falta destes aviámos sapateiras, ameijóas pretas e lamejinhas.
Banquinha do marisco
Ainda observámos a oferta de peixe.
Bancas de peixe
"(...) À tua direita então verás uma escada: sobe depressa mas sem tocar no velho cego que desce devagar. E ao cimo da escada está uma mulher de meia idade com rugas finas e leves na cara. E tem ao pescoço uma medalha de ouro com o retrato do filho que morreu. Pede-lhe que te dê um ramo de louro, um ramo de orégãos, um ramo de salsa e um ramo de hortelã. Mais adiante compra figos pretos: mas os figos não são pretos: mas azuis e dentro são cor-de-rosa e de todos eles corre uma lágrima de mel. Depois vai de vendedor em vendedor e enche os teus cestos de frutos, hortaliças, ervas, orvalhos e limões."
Este é outro exerto do Caminho da Manhã, que embora não esteja plasmado no mercado representa a nossa acção seguinte. Subimos ao piso de cima para nos abastecermos de um ramo de coentros, limões e tomates.
Banquinha dos legumes
Ainda nas palavras da Sophia, não sei se é a nossa oração em frente do grande Deus invisível mas amamos as coisas visíveis.