sexta-feira, 30 de setembro de 2016

O Que Encontrámos a Norte. Deambulação por Espanha e França.

Nove dias e meio.
Um dia e meio, essencialmente, de percurso de viagem. O resto dos dias tivemos todos os minutos por nossa conta.
Aproveitámos todo esse tempo para descobrir novos cantos, deslumbrarmo-nos com novas paisagens, confirmarmos a beleza de outras, experimentarmos e delirarmos com novos sabores e sentirmos novas sensações e experiências.
2450 km em que cruzámos na ida e volta a Península Ibérica, em que andámos pela região espanhola da Cantábria e pelo País Basco espanhol e francês.
Nove almoços e nove jantares.
Comemos um pouco de tudo. Desde comida mais simples a alta cozinha. Obviamente que comemos muitos pintxos, ou não estivéssemos vários dias na terra que inventou estas tapas inventivas, o País Basco.
Começámos com um jantar no El Sanatorio, na Plaza Mayor de Ciudad Rodrigo, onde fizemos a nossa primeira paragem rumo a norte.
O hashtag da cidade é #somosfarinatos, elucidativo da importância da farinheira por estes lados.
Claro que comemos farinatos com huevos fritos, o prato da terra, mas também cogumelos salteados e alcachofras com jamon.
Da calma de Ciudad Rodrigo, rumámos para Santander, onde numa noite quente e agitada de sábado, sentimos a simpatia e a boa cozinha da Casa El Ajero, situada no coração desta cidade magnífica.
Tortilla, navalheira, pintxos (courgete panada, cogumelos e queijo de cabra; pimento vermelho, anchova com azeite; bacalhau, courgete e pimento verde e vermelho; pimento recheado com santola), foram algumas das delícias que nos alegraram a alma e o estômago.




Com a cidade ainda a acordar da farra da véspera, pintxámos no gastrobar La Casa del Indiano, no mercado de Santander. O "Indiano" do nome é uma referência ao emigrante que regressou rico da América, quando Espanha tinha as suas colónias. Com maior riqueza saímos também nós, depois de nos termos deleitado com os pintxos da casa.


A poente de Santander, ainda na Cantábria, em San Vicente de la Barquera enquanto se dava o ocaso do sol, sentámo-nos na esplanada do El Pescador, junto ao porto, e deixámos a noite chegar enquanto saboreávamos umas sardinhas, mexilhões, lulas fritas (rabas) e carapaus alimados .



Em Bilbau comemos pintxos. Muitos e saborosos pintxos. No Mercado de la Ribera, no Restaurante Víctor Montes, no Café Bar Bilbao, ambos na Plaza Nueva, no Irrintzi na Calle Santamaría.





A coadjuvar os pintxos, tivemos a presença do txakoli, o vinho branco jovem da região.



Em Bilbau, deambulámos ainda pelas bancas do bonito e rico Mercado de la Ribera.






Comemos também um magnífico bacalhau fumado segundo métodos tradicionais e uns deliciosos pimentos provenientes de Gernika na acolhedora e bonita Casa Rufo.



Já nas redondezas de Bilbau tivemos a melhor refeição da viagem e seguramente uma das melhores, se não mesmo a melhor, experiência gastronómica de sempre.
Esse privilégio aconteceu no Azurmendi, restaurante de Eneko Atxa. Mas sobre essa experiência falaremos num post autónomo.





Em Getaria, terra de conservas, aproveitámos para adquirir algumas da marca local Salanort. Serão testadas num jantar caseiro.




Em San Sebastian comemos os pintxos mais imaginativos da viagem. 
Na calle 31 de Agosto, no A Fuego Negro, deliciámo-nos com a Gilda, criação em homenagem ao filme mais famoso de Rita Hayworth, que consiste na conjugação de azeitona, anchova e piquillo.






Rejubilámos com o delicioso Makcobe com txips (de banana), um mini hambúrguer de carne wagyu, com o delicioso, fresco e genial tártaro de atum com melancia, com o polvo grelhado, maça batata viole e aire gorri (espuma) e com uma rácion de bonito (atum).



Perdemo-nos ainda com a oferta dos pintxos do Zeruko, na Calle de la Pescadería, um dos mais experimentais e inventivos bares de San Sebastian. Com uma apresentação meticulosa, os vários pintxos dispostos no balcão não nos tornam a vida fácil. A escolha é complexa, pois os olhos açambarcam tudo e tolhem-nos a decisão.
Algumas das nossas escolhas, acompanhadas por sidra, outra das bebidas típicas da região, foram pintxo de morcela com ovo e piperrada (tomate, pimenta verde e cebola), pintxo de caranguejo mole, pintxo de presunto com anchova.



Depois da elaboração das criações do Zeruko, emocionámo-nos no Txepetxa. Esta casa especialista em anchovas fez-nos confirmar que o lado simples da vida é muitas vezes o mais deslumbrante. Sem artifícios, o pintxo de anchova com ouriço-do-mar e o txangurro (pintxo de caranguejo, cebola, alho, tomate e brandy) mostraram-nos como se consegue atingir o sublime.




Fora do centro histórico, para lá do rio Urumea, no bairro surfístico de Gros, também saboreámos uns pintxos no Bergara Bar.




Já do lado francês do País Basco, em Biarritz, deliciámo-nos com as huîtres e as moules do La Cabane a Huitres. Lambuzámo-nos também com umas anchovas maravilhosas. 
Oh lá lá! Vraiment délicieux!





Por terras gaulesas, os nossos olhos entusiasmaram-se com a oferta do mercado Halles de Biarritz. Este mercado é um deslumbre de organização e limpeza. Por momentos fiquei com vontade de viver por aqueles lados para ter a possibilidade de me abastecer com frequência daquelas iguarias.











Em Bayonne também nos deslumbrámos com a oferta e vida do mercado local (Les Halles) e sua envolvente, que ao sábado é especialmente animado por acolher produtores das redondezas.





Não resistimos em comprar uma baguete, a magnífica charcutaria da região, alguma dela feita com pimenta de Espelette e um delicioso gâteau basque.









Com estas aquisições fizemos um piquenique na praia de La Barre em Anglet.
Em Saint Jean de Luz e em Biarritz deliciámo-nos com a Maison Adam e as suas propostas. Esta casa existente desde 1660 continua a elaborar macarons, chocolates, gâteau basque e outra pastelaria com as receitas tradicionais. Sorte a nossa, tantos anos depois, continuarmos a ter oportunidade de nos deliciarmos com as criações deste paraíso terreno.





Encontrámos muito a norte. E deliciosamente saboroso.