A cozinha da Colômbia não é conhecida pelo mundo fora. Não tem a aura e a imagem
forte como a de outros países da América Latina, nomeadamente a do Perú. Porém,
tem vindo a emergir e, em 2016, na lista dos 50 melhoresrestaurantes da América Latina constam quatro restaurantes colombianos. Um desses
restaurantes é Leo Cocina y Cava (ocupa
a 33º posição), o qual tem como chef Leonor Espinosa.
Para
fechar a nossa viagem, já com algum conhecimento adquirido pelas diversas
refeições e experiências gastronómicas que tivemos nos dias que antecederam,
resolvemos fazer uma refeição neste restaurante
localizado no bairro de Macarena, no centro da capital colombiana, Bogotá.
Numa
casa antiga e apenas com o discreto título LEO na porta encontra-se um espaço
moderno, amplo e acolhedor, onde é possível fazer uma viagem gastronómica pela Colômbia
sem sair da cadeira.
Entrámos
e estabelecemo-nos com a ideia de nos entregarmos ao menu de degustação. Contudo,
percebemos que esta modalidade é sobretudo servida à hora de almoço pelo tempo
que demora a percorrê-la. Face a essa circunstância a refeição acabou por ser
feita pela escolha à carta de uma entrada, prato principal e sobremesa.
Já tínhamos
uma ideia do conceito do trabalho desenvolvido pela chef, original de Cartagena,
na Costa Caribenha, mas ao percorrermos a ementa tivemos a confirmação.
No
Leo efetua-se uma interpretação moderna da cozinha colombiana. Os ingredientes
colombianos são os protagonistas maiores da sua cozinha.
A
equipa de Leonor Espinosa percorre o território colombiano a estudar os
ecossistemas e a investigar os seus produtos, as espécies que podem ser usadas
na culinária, bem como as tradições culinárias de cada região. Este trabalho
conta com o apoio das comunidades locais e seus produtores, que são actores-chave
em todo o trabalho desenvolvido.
Como
resultado deste trabalho, a elaboração do menu assenta num conjunto de
propostas baseadas em produtos autóctones, muitos deles pouco difundidos, recreados
pela memória das tradições gastronómicas e dos saberes ancestrais. À tradição conjuga-se, assim, a criatividade, a técnica culinária e a sofisticação.
A
chef Leonor Espinosa tem vindo a transgredir os cânones da cozinha típica
colombiana, que apresentava uma limitada oferta culinária, para, ao invés, dar visibilidade
a pratos, produtos e preparações regionais desconhecidas da maioria.
Com o trabalho que tem desenvolvido, a chef criou também uma
Fundação (FUNLEO) que tem como objectivo identificar, recuperar e potenciar as
tradições gastronómicas das comunidades colombianas, a partir do seu património
biológico, cultural e imaterial, colocando assim a gastronomia como motor do
desenvolvimento social e económico.
Na essência, a
cozinha de Leo é feita da fusão de umas regiões com as outras. É uma síntese da
uma Colômbia recôndita, esquecida, descolhecida mas também maravilhosa.
A viagem gastronómica que embarcámos demonstra isso mesmo. Ora vejam e embarquem também.
De
amuse bouche apresentaram-nos uma maravilhosa proposta da selva húmida tropical, pan de achín, crema de
chontaduro. Começo delicioso.
De
entradas deambulámos pelo ambiente marinho costeiro, bosque de montanha e
bosque seco tropical, com um atún chocoano, hormigas culonas, pipilongo,
guandú, miel de caña.
O cubio,
caracol, brotes, chuguas, lechugas chachafruto, tomate de árbol, pepino melón,
transportou-nos para o bosque de montanha, bosque altoandino e para o ecossistema
marinho costeiro.
Com
o palmito del Putumayo, paipano, laurel de páramo embrenhámo-nos pela selva
húmida tropical, pelo bosque montanhoso e pelo páramo. Este prato, genial, faz-se e saboreia-se em diversas texturas (sólido, espuma, líquido).
Com
os pratos principais a nossa viagem prosseguiu Colômbia fora.
O envuelto de pescado, arroz de titolé,
caracol, fez-nos sentir os sabores marinhos costeiros e insulares.
Já o
asado de costilla de cerdo, jumbalee,
cebada perlada remeteu-nos para o ambiente insular e bosque montanhoso.
Na
sobremesa, sem ponta de cansaço, continuámos a nossa deambulação.
O Globo
de cacao santandereano, cascajo de titoté y ajonjolí, crema helada de nata levou-nos
ao bosque montanhoso e ao bosque seco tropical.
Com
a Crema helada de arrechón, gel de zapote, copoazú, cacao caucano imergimos na selva
húmida tropical, no bosque seco e no estuário.
Por
fim, com a explosão, literal, sensorial do Bombón de naidí, yaca, millo entrámos, sem nos perdermos,
pela selva húmida tropical e pelo bosque seco tropical.
Cada sabor, aroma, textura,
sensação conta uma história dos lugares da Colômbia que lhe deram origem e
simultaneamente oferece-nos uma experiência única.
Depois de termos
percorridos algumas coordenadas geográficas da Colômbia não podíamos ter
terminado de melhor a nossa viagem, com esta viagem gastronómica que embarcámos
no Leo.
Celebremos com esta sangria de corozo.