Entramos em cena. O nosso lugar é ao balcão.
No fim percebemos que não há melhor lugar para vivenciar o espectáculo.
Estamos mesmo em cima da boca de cena, onde toda a acção se passa.
Como uma peça de teatro, ou não estivéssemos na vizinhança de vários
teatros, o jantar está dividido em actos. A própria decoração do espaço recria o
ambiente teatral.
O Mini-Bar é o local onde tudo se desenrola. E José Avillez o encenador
mor, mas apoia-se em inúmeros coadjuvantes.
O pano está prestes a levantar-se.
Começa o 1º Acto, com um mini cocktail de trincar, uma Caipirinha -
Belcanto 2012. Curioso e inventivo, são palavras que descrevem este aperitivo em forma de esferificação.
Chega o 2º Acto, composto por mini petiscos, e digladiámo-nos com umas
gambas do Algarve em ceviche e com um abacate em tempura com kimchi
desidratado, rebentos de coentros, lima e limão.
Que delícia de momento. Afundamo-nos na cadeira e fruímos da mistura de
sensações. Da acidez, picante e frescura do ceviche, soberbamente ponteado por
uma esferificação de “leche de tigre” e pelo milho crocante, passamos para o
conforto inusitado do abacate em tempura, que veio a ser um dos maiores
protagonistas da noite. Com uma fritura perfeita, aparece soberba e
inesperadamente acompanhada pelo magnífico kimchi desidratado.
A cena prosseguiu para o 3º Acto, feito por mini entradas. Com uma forte
aposta no figurino, surge o elegante e esbelto “cornetto” temaki de tártaro de
atum com soja picante. Textura do cone perfeita, feita com massa brick a imitar
alga nori, peixe óptimo, mas conjunto algo enjoativo a pedir por mais soja
picante a entremear o atum.
Neste acto foi apresentado ainda uns nuggets de bacalhau e emulsão
“Bulhão Pato”. Perfeito. Tudo. Desde a fritura, textura do bacalhau, à emulsão.
A peça começou a ganhar mais densidade ao 4º Acto, composto por mini
pratos de peixe. Este acto foi magistralmente digerido com a ajuda de pinças.
Foi assim que manuseámos as macias e perfeitas vieiras salteadas com sabores
Thai, servidas num réchaud.
Também num réchaud e com pinças foi apresentado o 5º Acto, baseado na
oferta de mini pratos de carne, no qual deliciámo-nos com um divinal tataki de
novilho com mostarda de Dijon, pimenta preta e flor de sal fumada. Carne estupendamente
macia e deliciosa.
Ainda no 5º Acto surgiu em cena uma gulosa e deliciosa bifana
Vietnamita.
No último acto, após um diálogo entre cliente e barmans com o fito de
ajudar à escolha da sobremesa, a opção recaiu no Globo lima-limão. Depois de
confirmado por um dos barman que, sim, é o mesmo conceito que a Tangerina do
Belcanto, mas é verde! Assim, com veemência e entusiasmo.
Já com o último acto a decorrer, muito bem, diga-se, a cliente, muito feliz,
dirige-se ao barman e diz, pensado ser uma boa notícia, “o Sporting está a
ganhar”. Nesse momento dá-se como que uma tragédia pessoal no barman, que fica
lívido. A cliente deduziu mal a cor clubística do barman, que ainda se
encontrava em recuperação depois da tragédia dos 0-3, na semana anterior, para
os lados de Carnide.
Mas esta situação em nada maculou os actos anteriores da peça a que nos
propusemos naquela noite.
Pelo que o gelado de limão por fora e espuma de yuzo por dentro sobre
um creme de lima foi digerido magnificamente e fechou brilhantemente toda a experiência.
Falta dizer que o elenco da peça, aka cocktails, foi composto por um Mojito
à Cantinho e por uns shots de Primo Basílico (Gin, Limão, Manjericão),
gentilmente oferecidos pelo barman e maravilhosamente sorvidos por nós.