quarta-feira, 15 de outubro de 2014

À Mesa na A Mesa

Acabou assim. Com os pratos vazios. 
Iniciar assim seria negativo. Terminar desta forma é muito positivo. É dos maior elogios que se pode fazer a uma cozinha.
O início passou por escolhermos as pizzas mais entusiasmantes.
Naquele dia foram a Castelo e a Bairro Alto.
A ementa da pizzeria A Mesa faz-se sobretudo de pizzas, mas também de massas e saladas.
As pizzas têm nomes de bairros de Lisboa. 
Como é o bairro do Castelo? Em formato de pizza é composto por frango desfiado, cogumelos frescos, rodelas de palmito e catupiry.
Deslumbrante e gostosa, como o bairro histórico que está no cume de uma das colinas lisboetas.
E o Bairro Alto, do que é feito?
Tem um toque picante.
Será pela sua boêmia? Talvez.
Mas aqui os ingredientes são outros. Salame pepperoni, mozzarella de búfula, sementes de gergilim e geleia de pimenta.
Excêntrica e saborosa, ao estilo do bairro notívago.
A degustação das pizzas faz-se de forma descontraída, ao longo da, única e gigante, mesa do estabelecimento. O mote é congregar e promover o convívio entre todos os comensais. Conhecidos e desconhecidos.
Foi o que nos aconteceu na última visita. Ao nosso lado estavam uns holandeses, de visita a Lisboa, com quem animadamente e tranquilamente fomos falando e partilhando as pizzas e palavras, enquanto lá fora o dilúvio não dava tréguas.
No entanto, no interior o conforto era total.

quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Leopold

Leopold. Não encontramos nenhum Gustav Klimt. Nem tão pouco as obras atrevidas do expressionista Egon Schiele. O único vestígio do museu vienense é o nome, gravado na janela, e um poster no interior do pequeno espaço.
No entanto, há outros paralelismos. Neste Leopold, restaurante, tal como no museu, também se encontra arte, criatividade e imaginação. Muita.
No nº 27 da Rua de S. Cristovão, na Mouraria, não há fogão nem outros elementos comuns de uma cozinha. Aqui, no espaço de uma antiga padaria, todos os pratos são confeccionados a vácuo, com um Roner.
A cozinha de Tiago Feio, o chef, é feita de experimentalismo e muita originalidade. Originalidade que se prolonga do modo de confecção ao produto final.
Na carta, curta pelos processos utilizados e pela pequena dimensão do restaurante (12 pessoas), encontramos propostas muito interessantes, quer na combinação de sabores e texturas como na apresentação.
Todos os pratos foram apresentados em loiças, lindíssimas, das Caldas.
Começámos com ovo cozinhado a 63,5 graus, cogumelos shitakes e sementes de trigo sarraceno.
Combinação perfeita, com o sabor forte dos cogumelos e o crocante das sementes a fazerem o contraponto com a maciez do ovo.
Continuámos com um portento de originalidade e sucesso.
Legumes na Terra, composto por alfarroba e cacau, a representarem a "terra", espinafres turcos, beterraba, puré de nabo, cenouras bebés, os legumes que brotam da "terra", e miso branco.
Avançámos, com muito entusiasmo, para o bacalhau cozido, com couve lombarda, cebola roxa em pickles caseiros e cuscos de Trás-os-Montes (cuscus feitos à mão).
Prato simples, mas muito bem conseguido. A posta de bacalhau estava no ponto com as lascas a soltarem-se com firmeza e textura macia. Os pickles deliciosos e os cuscos surpreendentes, com um travo adocicado.
Terminámos, de uma forma magnífica, com um creme de feijão com maçã, suspiros das Caldas e hortelã.
Sabe muito bem experimentar propostas empolgantes, e pouco comuns, como as apresentadas pelo Leopold. É daqueles sítios que ficamos a aguardar com ansiedade pela mudança de carta para explorarmos mais propostas interessantes, originais e deliciosas.