terça-feira, 23 de setembro de 2014

Dinastia Tang

A Dinastia Tang, entre 618 e 907, foi a dinastia chinesa que consolidou as principais estruturas do Império Chinês, sendo considerada a época de ouro da China medieval. Para além das profundas reformas institucionais inspiradas em Confúcio, marcou uma grande expansão territorial, reconstruiu importantes cidades e fortaleceu o exército.
Estes apontamentos históricos servem apenas para contextualizar o nome do restaurante que abriu recentemente na Rua do Açúcar, no Poço do Bispo. O Dinastia Tang, restaurante, parece procurar ter a grandiosidade da dinastia que lhe deu o nome.
Espaço enorme, com dois ambientes, uma sala no piso de baixo vocacionada para eventos e outra no piso de cima para as refeições normais do quotidiano. O piso de cima é marcado por uma bonita decoração tradicional chinesa.
A carta é muito vasta e com propostas diferentes do habitual restaurante chinês em terras lusas, que entretanto entrou em decadência.
Facilmente nos perdemos nas inúmeras propostas, que são sobretudo da cozinha cantonesa, pelo que pedimos sugestões.
Antes disso já tínhamos chegado à decisão de pedir a salada de medusa, que se apresentou muito saborosa.
Pedimos também beringela com carne de porco picada na púcura. Aposta muito válida, com a beringela muito macia e um equilibrio entre os diversos ingredientes.
Solicitámos ainda dim sum de camarão, que não deslumbrou mas também não comprometeu.
Por fim, pedimos o emblemático Pato à Pequim. A memória da última experiência criou todo um entusiasmo, que acabou por sair defraudado. O problema maior é que a referência era muito alta, um dos melhores patos à Pequim da capital da China. Porém, este pato, apesar de vir composto por alguns dos acompanhamentos típicos (massa de enrolar, molhos, vegetais), não estava especialmente bem trinchado, nem soberbamente macio, nem tão pouco com a pele crocante. É uma pena quando as expectativas não são correspondidas.
Ainda que este restaurante não seja tão grandioso como a dinastia que lhe deu o nome, valeu esta viagem até à China.

Boi-Cavalo

Rua do Vigário, Alfama. Na Lisboa tradicional e castiça há um restaurante com nome e espirito irreverente. É o Boi-Cavalo.
Instalado num antigo talho, o restaurante apresenta uma carta, que muda com frequência em função da disponibilidade de ingredientes, marcada por propostas ousadas, com combinações à partida inimagináveis mas que, pelo menos as que experienciámos, no fim resultam.
Num ambiente simpático e despretensioso e já com o vinho (Passarela, do Douro e Lua Cheia, do Dão, ambos tintos) à nossa beira, começaram a vir os pratos que escolhemos.
Primeiro os carapaus fumados com molho à espanhola, gel de Alvarinho e salada de ervas (funcho, coentros e cebola roxa).
Excelente a textura e sabor dos carapaus e surpreendente a originalidade e frescura do gel de Alvarinho.
Prosseguimos a refeição com o lingueirão bebé, gyozas de açorda, bulhão pato.

Fantástica combinação de sabores. Uma delícia.
A proposta seguinte foi camarão salteado, xerém de pipocas, couve e vinagreta de arenque. Destaque para o bem conseguido e original xerém de pipocas.
Por fim, chegou o pato a baixa temperatura, granola, manjericão e pancetta. Muito bem conseguido, quer na textura, combinação de ingredientes como no sabor. Óptima experiência degustar a carne macia, com o crocante da granola e da pancetta.
Terminámos a refeição com uma sobremesa, leite-creme de arroz, pêssego salteado e gel de canela. Deliciosa.
Como balanço, destaque muito positivo para a invenção e criatividade na associação de sabores. Já como ponto menos positivo, aponta-se a pequena quantidade dos pratos face ao preço e a, inexplicável, ausência de substituição de pratos e talheres com a mudança de propostas.
Apesar desta falha, por gostar de novas experiências e de ser surpreendida, prefiro valorizar a personalidade e a atitude deste restaurante, que me deixou com curiosidade em relação à próxima mudança de carta.

sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Quando a Cidade Entra por Nós - Panorama

A primeira sensação quando se chega ao último andar do quarto edifício mais alto de Lisboa é que a cidade entra por nós adentro. É uma invasão boa e deslumbrante.
É assim que nos são dadas as boas vindas no restaurante e bar Panorama, no Hotel Sheraton de Lisboa, o qual foi durante muitos anos, desde 1972 a 2000, o edifício mais alto da capital.
Com uma vista soberba de 180º sabe bem acabar a tarde por estes lados. Os nossos olhos alcançam desde a colina da Graça, mais a nascente, até Monsanto, mais a poente, e nos entretantos o Castelo de S. Jorge, a Baixa, a colina do Príncipe Real, as Amoreiras e como pano de fundo o rio Tejo, a sua ponte e a "outra banda".
Por estes dias é possível, diariamente, entre as 16h e 20h, beber um Gin Bulldog acompanhado por sushi.
Foi assim, descontraidamente e com um visual imperdível, que acompanhámos o declinar do sol e deixámos a noite vir.

terça-feira, 9 de setembro de 2014

Tsukiji | O Mercado

Tsukiji é o nome do maior mercado de peixe do mundo. Fica no centro de Tóquio, ocupa uma grande área, cerca de 23 ha, e tem uma grande reputação. É ali que os melhores restaurantes, nomeadamente de sushi, se abastecem.
Diariamente ao final da tarde, entrando pela madrugada, começam a chegar camiões com carga proveniente de diversos portos do Japão e de outras partes do mundo.
Por volta das 5 da manhã, as mercadorias já estão dispostas, e começam os leilões.
Não assistimos a esse momento, que é tido como um grande espectáculo, pois é ali que os produtos de alta qualidade alcançam as melhores cotações.
Chegámos depois, pelas 8 horas, e vimos outra parte do espectáculo. As mercadorias expostas pelos comerciantes que têm bancas no próprio mercado e estão acessíveis de serem vistas. Falamos de hortícolas, pickles, facas, mas sobretudo de uma grande variedade de seres marinhos comestíveis.
Assistimos também a toda a actividade frenética do mercado, que divide a sua própria acção com a presença de um elevado número de turistas que o visitam diariamente. Assim, no meio dos estreitos corredores e das vias cruzam-se pessoas que estão a trabalhar com as que estão de visita.
Há todo um ritmo e dinâmica própria. Primeiro, os momentos que não presenciámos, como os estivadores a descarregarem os peixes, os leiloeiros a anunciarem os peixes, depois, acções como os fornecedores a pesarem os peixes, compradores a analisarem os peixes, o peixe a ser embalado para outras latitude, carrinhos de carga a transportarem o peixe, peixeiros a desossarem peixes, como o atum.
Peixe, peixe, peixe… Peixe é a palavra.
Nós limitámo-nos a contemplar parte da dinâmica do ciclo de comercialização do peixe.
A acção mais vigorosa, e também mais saborosa, que fizemos parte foi degustar o protagonista do mercado, isto é, o peixe.
No Tsukiji existem óptimos restaurantes especializados em peixe, nomeadamente em sushi. Imitámos os profissionais do mercado e fizemos a primeira refeição do dia, o pequeno-almoço, por lá.
Escolhemos um dos muitos restaurantes de sushi. Esperámos, ansiosamente, cerca de três longas dezenas de minutos por um lugar no pequeno restaurante, que não tem mais de 10 lugares dispostos ao balcão.
Com vista privilegiada para a açção dos sushimans, a água foi crescendo na boca.
Finalmente chegou o nosso pedido que incluía peixes mais comuns, como o salmão, atum (mais e menos gordo), o camarão, assim como outros menos utilizados em Portugal na elaboração do sushi, como a enguia, lula, carapau, olho-de-boi, berbigão, amêijoa.
Todas as peças apresentaram-se com uma qualidade soberba. Foi uma refeição fantástica e demorarei a esquecer a enguia, o peixe vencedor deste inusitado e maravilhoso pequeno-almoço.