Estava
prometido. Íamos até Montemor-o-Novo almoçar ao restaurante L'AND, do resort L'AND &Vineyards.
O Verão tinha
acabado de chegar, mas mais parecia um dia de Outono. Nada que abalasse o nosso
propósito.
O edifício central
do resort, onde está sedeado o restaurante, apresenta uma arquitectura contemporânea,
ainda que não descure a tradição ao apresentar alguns apontamentos reinterpretativos
como os pátios de influência árabe e romana.
O restaurante,
ladeado por dois desses apelativos pátios e com vista para Montemor-o-Novo e o
seu castelo, é um espaço muito bonito e acolhedor. O interior conjuga materiais
como ardósia e madeira e apresenta um mobiliário de linhas exclusivas e
elegantes. A elegância está também presente noutros apontamentos, como as
toalhas e guardanapos de linho.
Feitas as
apresentações do espaço físico, preparemo-nos para a componente gastronómica.
O restaurante comandado
pelo chef Miguel Laffan recebeu no
final do ano passado uma estrela no Guia Michelin. Acabou por ser uma das
maiores surpresas, por ser um restaurante recente, discreto e fora dos
principais eixos gastronómicos nacionais.
Optámos pelo
menu de degustação, composto por seis pratos, dois dos quais sobremesas, e
decidimos acompanhar a refeição com o vinho L’AND Reserva 2011 Tinto, um vinho
tipicamente Alentejano, feito com Touriga Nacional, Touriga Franca e Alicante
Bouschet.
A
refeição iniciou-se com uma sopa de peixe da costa vicentina,
lagostim assado e croquete cremoso de ostra envolto com tinta de choco.
A
sopa apresentou-se muito saborosa, o lagostim macio e delicioso e o croquete
com conjugação de texturas várias. Ora crocante na parte exterior, ora cremoso
na interior.
Bom inicio.
Avançámos
para um tataki de atum em mil folhas, compota de cebola roxa e chutney de manga
com salada de rábano, coentros e bergamota. A acompanhar vinha também um croquete de atum com exterior de tinta de choco e erva príncipe, gotículas de wasabi e soja caseira.
Este prato
com uma bonita e harmoniosa composição, transporta-nos para influências asiáticas. Apesar de ter gostado da conjugação dos sabores, pareceu-me que o atum do tataki esteve demasiado discreto no
sabor e o mil folhas um pouco seco.
Rapidamente
seguimos para o salmonete de Setúbal na salamandra, açorda de
caldeirada com lulas salteadas e salada crocante.
O
salmonete apresentou-se com uma textura irrepreensivelmente macia e a açorda, soberba, estava de
fazer levitar.
Prosseguimos
para a carne, com um lombinho de porco de raça alentejana assado lentamente, gratin
de couve-flor texturizado com salteado de espargos, ervilha e morcela
regional.
O
lombinho exibiu uma textura excepcionalmente macia e uma qualidade elevada. A conjugação com os
restantes ingredientes esteve perfeita.
De
entrada na secção das sobremesas, iniciamos com um tiramisu de pistacho com
chocolate branco e cerejas confitadas, gelado de café e crocante de chocolate tainori.
A conjugação de texturas e sabores tão distintos fez-se de uma forma
harmoniosa. Destaque para o curioso sabor das ervas comestíveis que encimaram a sobremesa.
Por
fim, terminamos com um duo de cenoura, terra de pistacho com espuma de açafrão
e gengibre, gelado de mel. Composição de bonito efeito, acompanhada de igual
prestação no sabor.
Assinalo a
curiosidade de, apesar de o restaurante se localizar no interior do Alentejo, o
presente menu de degustação apostar sobretudo em ingredientes do litoral. Não
constitui uma crítica, antes uma constatação.
Como súmula
pareceu-me que a cozinha desenvolvida apresenta uma matriz clássica com
influências portuguesas, nomeadamente com uma aposta e valorização dos produtos
regionais. Não se trata de uma cozinha espectáculo, criativa e divertida, mas
antes uma linha que aposta numa boa confecção, bons produtos e conjugações
harmoniosas.
Quem
consegue estar sempre em festa? A simplicidade, harmonia e consistência são essenciais na
vida. Pelo que, esta cozinha desenvolvida pelo Laffan, é absolutamente válida.