Oito dias pela Holanda.
Percorremos a pé 134 km. É o que nos diz a aplicação do telemóvel.
Que eu saiba não há nenhuma aplicação que nos dê a frequência
com que mastigamos. Porém, asseguro, mastigámos bem pela terra das tulipas e dos moinhos.
A Holanda não é dos países com maior destaque no que diz respeito à
cena gastronómica, mas tem ofertas que valem a pena descobrir.
Na verdade destaca-se mundialmente pelos seus queijos (Gouda, Edam). Contudo, por ser dos poucos alimentos que não suporto, este capítulo não tem espaço aqui. Pronto, há espaço para uma fotografia. Só porque não se faz acompanhar do cheiro.
Nas nossas incursões gastronómicas experienciámos tanto fine
dinning como street food.
Fomos à procura da tradição, mas também das novas tendências.
A tradição encontrámos sobretudo na rua e em estabelecimentos
simples.
Da comida de rua deliciámo-nos com as incontornáveis
stroopwafel, as tradicionais bolachas de caramelo. Regalámo-nos com as
originais (na Original Stroopwafel no mercado Albert Cuymarkt em Amesterdão), feitas no momento, cujo caramelo insiste em escorrer para a nossa
mão e nos presta a figuras pouco aceites nas condutas dos bons modos.
Deliciámo-nos também com as já feitas. Não nos põem a lamber os dedos,
literalmente, mas são igualmente saborosas.
Também no capítulo dos doces de rua, fizemos uma investida
nas poffertjes, as mini panquecas doces, que podem ter diversas coberturas.
O haring, simples ou em sanduíche, foi a maior revelação.
Arenque cru em salmoura, cebola e pickles. Adorei. Simples, mas cheio de
personalidade. O Volendammer Vishandel e o mercado Albert Cuymarkt são dois
óptimos locais para provar este snack tradicional.
As bitterballen são outro snack muito popular na Holanda. São croquetes
de carne ou camarão comidos a solo ou no pão. Deliciosos. Não conseguimos
experimentar os da Patisserie Holtkamp, considerados dos melhores, mas tivemos a experiência tanto
isoladamente, com um toque de mostarda, como no pão.
O Broodjeszaak't Kuyltje,
no centro de Amesterdão, é daqueles locais que me conquistam de imediato. Sítio
simples, mas que tem o essencial. A especialidade são as sandes caseiras feitas
com produtos de grande qualidade, sejam queijos ou enchidos. Devorámos a sanduíche de pastrami com pickles. Uma delícia.
Em Joordan, também em
Amesterdão, no Swieti Sranang comemos a broodje pom, sanduíche do Suriname de
frango picante. Pom é um prato português-judaico que foi introduzido no
Suriname pelos donos das plantações de café e açúcar. Como o Suriname foi colónia holandesa até 1975, encontram-se inúmeras propostas gastronómicas deste país. Alguma dessa oferta vem associada a Java (ilha da Indonésia), isto é, com frequência vimos restaurantes suri-javaneses. Inicialmente questionámo-nos da razão, atendendo à distância geográfica entre ambos e, por fim, percebemos que uma parte significativa da população do Suriname é composta por pessoas de origem javanesa, descendente dos escravos provenientes das antigas Índias Orientais Holandesas, o que corresponde à actual Indonésia.
Também em Joordan, bem próximo, no Café Papeneiland, deliciámo-nos com a melhor tarte de maçã da viagem. Alta, generosamente preenchida de tiras grandes de maçã, massa perfeita, doçura no ponto. Soberba.
Em Roterdão, no Tante Nel, imbuímo-nos do
espírito muito holandês da batata frita. Este estabelecimento tem a curiosa associação entre
batata frita e gin.
As batatas, fritas na hora, apresentaram-se grandes e com fritura irrepreensível. Ganhando mais personalidade com a maionese de trufas.
Para além do Suriname, a Holanda na sua história teve outras colónias, como as já falada Índias Orientais Holandesas, ou seja, a Indonésia. Esse passado colonial reflecte-se na gastronomia
presente no país. Assim, no Kantjil & De Tijger fizemos uma viagem à culinária
indonésia.
Ainda na componente tradição, mas no capítulo das bebidas, fizemos a nossa iniciação à Jenever no Wynand Fockink A jenever, também conhecida como o Gin Holandês, é uma bebida feita à base de zimbro e é muito popular na Holanda, assim como na Bélgica.
É tradicionalmente servida num copo em formato de tulipa e pode ser bebida no seu estado puro ou em licor aromatizado.
De acordo com as tendências urbanas actuais, tanto Amesterdão como Roterdão, apresentam mercados, reconvertidos a partir de edifícios anteriormente com outros usos, com comida do mundo, mas também local e biológica.
O Foodhallen, reconvertido a partir de um espaço utilizado até 1996 como garagem de eléctricos da cidade, é a resposta de Amesterdão a essa tendência. Fica localizado no fantástico complexo cultural De Hallen no bairro Out-West, que para além do Foodhallen, um mercado de comida coberto, apresenta cinema, hotel, biblioteca, espaço de exposições e lojas.
Neste espaço, bonito, podemos dar a volta à gastronomia do mundo. Por ali há propostas de quase todos os cantinhos do nosso planeta.
O Foodhallen, reconvertido a partir de um espaço utilizado até 1996 como garagem de eléctricos da cidade, é a resposta de Amesterdão a essa tendência. Fica localizado no fantástico complexo cultural De Hallen no bairro Out-West, que para além do Foodhallen, um mercado de comida coberto, apresenta cinema, hotel, biblioteca, espaço de exposições e lojas.
Bar do Kanarie Club, no Foodhallen
Neste espaço, bonito, podemos dar a volta à gastronomia do mundo. Por ali há propostas de quase todos os cantinhos do nosso planeta.
Roterdão apresenta, desde 2014, o Markthal, magnífica e colossal obra arquitectónica da autoria do atelier MVRDV.
Junto à estação Blaak e do maior mercado ao ar livre da Holanda, foi construído o que passou a ser o maior mercado coberto do país. Num edifício em forma de arco são combinadas diversas funções. Enquanto no interior, altamente colorido, existe um mercado de produtos frescos e uma praça de alimentação, na parte exterior do arco congrega-se a função de habitação.
Também em Roterdão, na península de Kadendrecht, encontra-se o Fenix Food Factory.
De pequena escala e implantado num antigo armazém portuário, podemos disfrutar de comida artesanal e produtos locais.
Junto à estação Blaak e do maior mercado ao ar livre da Holanda, foi construído o que passou a ser o maior mercado coberto do país. Num edifício em forma de arco são combinadas diversas funções. Enquanto no interior, altamente colorido, existe um mercado de produtos frescos e uma praça de alimentação, na parte exterior do arco congrega-se a função de habitação.
Também em Roterdão, na península de Kadendrecht, encontra-se o Fenix Food Factory.
De pequena escala e implantado num antigo armazém portuário, podemos disfrutar de comida artesanal e produtos locais.
No campeonato do fine dinning tivemos três experiências, duas em Amesterdão, no Choux e no Guts and Glory, e a outra em Roterdão, no estrelado Michelin FG Food Labs.
O Choux revelou-se uma excelente aposta, na verdade a melhor das três. Orientado para uma cozinha que valoriza os produtos locais e da época, é um espaço muito agradável, descontraído, mas com uma cozinha de muita qualidade.
Optámos pelo menu de 3 pratos (38€), os quais podem ser escolhidos a partir de um conjunto deles.
Lula, sumo de tangerina, alcaparras fritas e maionese de misu
Barriga de leitão, espuma de trufa e creme de ervilha
Prato de vegetais: Alcachofra de Jerusalém, abóbora, vegetais amargos, avelã
Granizado de rosa e pistácio em diversas texturas
Gaspacho verde, mini pizzas e proposta do Suriname
Ceviche de corvina com granizado de pisco
Espargos, ovo e maionese de trufa
Dourada em molho de cabeça de camarão (creme de marisco)
Mistura de cogumelos com creme de trufa
Gelado de baunilha, crocante de avelã e frutos secos
Em Roterdão, no FG Food Labs, restaurante com uma estrela Michelin do chef Francois Geurds, tivemos uma experiência agridoce.
Situado num antigo túnel de uma estação de comboios, na Hofbogen Rotterdam, este restaurante localiza-se num espaço muito bonito, apresentou uma comida deliciosa, mas acompanhado de um péssimo serviço.
Optámos pelo menu de 4 pratos e ao longo da noite, longuíssima para o número de propostas apresentadas, enquanto esperávamos pelo próximo prato, já sem o palato do anterior, tal o tempo de demora entre pratos, observámos o desnorte entre a equipa.
À parte esse desconforto e centrando-nos na comida, sem dúvida que tivemos uma óptima refeição.
Appetizer com pimenta rosa e sal em bruto para ralar
Simulação de tarte de maçã com foie gras com sabor à mesma fruta
Salmão com ovo de codorniz
Peixe com chouriço espanhol, trufas e legumes
Experiência de laboratório: mistura de ervas sobre azoto líquido gelado, mexida com almofariz e colocada por cima uma bola de gelado de limão
Prato anterior acompanhado com tofu com cogumelos e puré de batata doce e espuma
Prato de carne: beef com vegetais
Sobremesa: Macadamia, gelado de baunilha e azeite Masia el Altet
Da Holanda, na memória, trouxemos todas estas experiências gastronómicas e viemos com outra riqueza.