terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

O Paraíso é Aqui - Fassbender & Raush

O paraíso é ali. Na outra esquina da praça mais bonita de Berlim, a Gendarmenmarkt. Onde cruza a Charlottenstrasse com a Mohrenstrasse.
É aí que fica a Fassbender & Rausch.
Simultaneamente loja de chocolates, café e restaurante.
Ficámo-nos e perdemo-nos pelo piso térreo, onde fica a loja.
 
 
A oferta de chocolates é interminável. Não há como não ficar perdido com tamanho desafio de escolher.
 
 
Para sossegar dizer que provavelmente todos são óptimos. Pelo menos as nossas escolhas foram.
Por isso não há erro de falhar.
 

Street Food

A cena da street food está muito em voga em Berlim como, de resto, um pouco por todo o mundo. É nesse contexto que há uma oferta cada vez mais ampla.
Na nossa estadia fomos às quinta-feiras de street food do Markthalle Neun.
 
 
Entre as 17h e as 22h de todas as quintas-feiras decorre este evento no mercado do bairro de Kreuzberg.
Nesses dias parece que uma grande parte dos berlinenses vão até aquele ponto para aproveitarem a oferta diversificada que por lá se encontra.
 

Ali encontra-se desde a comida tradicional alemã à comida dos antípodas.
 

Face ao nosso estado de cansaço, típico de quem com a ânsia de conhecer tudo palmilha a cidade de manhã à noite, e em virtude do espaço de estadia para sentar ser diminuto em relação à procura, optámos por deambular pelo mercado para perceber a oferta e escolher apenas algo simples, empadas argentinas. Óptimas por sinal.

 
Mas cruzámo-nos com comida japonesa, coreana, espanhola, austríaca, italiana...
 
 
 e com estes senhores que seguramente foram pela cerveja.
 

Com ou sem cansaço, para comer mais ou menos, vale a pena, a uma quinta-feira, ir até ao Markthalle.
Provavelmente a viagem é igualmente válida noutro dia, já que este mercado tem uma programação muito rica. Pois para além de diariamente servir de frescos os habitantes locais, apresenta uma diversidade de eventos ligados à gastronomia e alimentação.


Ásia em Berlim

Em Berlim existe uma grande oferta de restaurantes vietnamitas e também coreanos.
presença destes restaurantes deve-se à significativa comunidade de cidadãos originários destes países, sobretudo do Vietname, constituindo mesmo o maior grupo de estrangeiros oriundos da Ásia residentes na Alemanha.
À semelhança dos Gastarbeiters, trabalhadores convidados da República Federal Alemã (RDA), a República Democrática Alemã (RDA) tinha um programa similar designado Vertragsarbeiter.
No início dos anos 50 do século XX a Alemanha Oriental começou por convidar estudantes do Vietname do Norte para estudarem e formarem-se na RDA.
Esta cooperação foi-se expandido sobretudo pelos anos 70 e nos anos 80 a RDA assinou um acordo com a reunificada República Socialista do Vietname para empresas da Alemanha Oriental formarem vietnamitas. Esses programas de formação procuravam não só suprir carências da indústria local, mas também ajudar a desenvolver os países mais pobres do Bloco Socialista.
a Alemanha Ocidental,durante esse período, foi recebendo essencialmente refugiados da Guerra do Vietname.
Os coreanos integraram também o lote dos cidadãos convidados (Gastarbeiter) pela RFA, constituindo-se os poucos não europeus recrutados.
recrutamento de trabalhadores especificamente da Coreia do Sul não se justificou só por necessidades económicas, mas também pelo desejo de demonstrar o apoio a um país, que tal como a Alemanha, foi dividido por questões ideológicas.
Na Alemanha Oriental registou-se uma menor presença de coreanos. Só depois da Guerra da Coreia é que ingressaram, ainda que em pequeno número, nas universidades da RDA e, depois de obterem formação, no sector industrial.
Actualmente a herança destes movimentos migratórios está expressa, entre outras formas, na oferta de restauração em Berlim.
Entre os restaurantes vietnamitas, escolhemos o District Môt – Saigon Street Food, no Mitte, que apresenta uma decoração muito interessante.
 


Recria várias situações que se presenciam no Vietname. Desde o amontoado de fios eléctricos que encontramos na iluminação pública e que ali são transpostos para a iluminação do restaurante.


Aos banquinhos dos restaurantes de street food que encontramos pelas ruas do Vietname. Passando pelos anúncios de rua, até outras características típicas.



Foi assim num ambiente animado e efervescente, como o das ruas de Saigão e de outras cidades vietnamitas, que tivemos uma excelente refeição.
Começámos com uns Goi cuon tom thit, ou seja, summerrolls de camarão e porco.


Prosseguimos com um dumpling de carne de porco.


De seguida atacámos um Mi Xao Giòn, carne de vaca, salteada com cebolinho, aipo e pimento, refinado com amendoins e coentro servido com massa de ovo.


A acompanhar todas estas propostas maravilhosas refrescámo-nos com um Xin Chào, uma bebida a partir de uma receita da família, a qual mistura sumo de lima, morango, hortelã, líchia e sementes de manjericão doce.
 
A cozinha coreana foi degustada no Kimchi Princess, em Kreuzberg. Num espaço amplo, mas completamente concorrido, degustámos Gun Mandu, dumplings fritos com recheio de carne de vaca e molho de soja caseiro,
 
 
 
Kimchi Bokkeumbap, arroz frito com kimchi, pedaços de vegetais, ovo frito, refinado com óleo de sésamo e cebola
 
 
e Dolsot Bibimbap, tijela de pedra quente com carne de vaca, vegetais, ovo frito e picante.
 
 
A comida coreana caracteriza-se por ser muito condimentada e forte.
 
Ainda na vertente asiática fomos, também em Kreuzberg, ao restaurante chinês Long March Canteen.
projecto de arquitectura de interiores é esplendoroso. A iluminação cinge-se ao necessário, isto é, a iluminar as mesas, contribuindo para uma atmosfera misteriosa e escura, mas nem por isso desconfortável.
 

Os apontamentos de decoração, que remetem para a China da Revolução Cultural, são fantásticos. Todo o espaço foi pensado na perspectiva comunitária defendida nesses tempos, pelo que as mesas são grandes e pensadas para serem por partilhadas por pessoas que não se conhecem.

Destaca-se a área de cozinha ao vapor, que ao libertar o mesmo dá um ar misterioso e, simultaneamente elegante, ao espaço.

 
Admito que as nossas escolhas gastronómicas não foram as melhores e talvez por isso a comida não foi surpreendente como esperávamos.
Começámos com um carpaccio de alforreca com maça e coentros. Já comemos bem melhor, inclusivamente em restaurantes em Portugal.
De seguida, degustámos uma beringela cozida ao vapor marinada com gengibre fresco e vinagre chinês "Lau Zhen Zhu".
 

Seguimos para umas lulas bebés grelhadas ao estilo zhejian.


Continuámos com arroz sticky com cogumelos shitake e tofu cozinhado em folha de lotus e com dumplings de porco e gengibre.


A finalizar deliciámo-nos com o melhor da refeição, Tang Bao, dumplings de chocolate quente com canela, cacau e molho de baunilha.
Maravilhoso.

 
Assim foi a nossa preciosa incursão pelo lado asiático de Berlim.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Turquia em Berlim

A Alemanha abriga a maior população turca fora da Turquia. Berlim é uma das cidades em que essa presença é mais notória, principalmente nos bairros de Kreuzberg e Neukölln, outrora na Berlim Ocidental. 
A presença dos turcos na Alemanha já vem de longe, mas foi após a 2ª Guerra Mundial que o número de imigrantes turcos cresceu significativamente. 
Com a construção do Muro de Berlim, em 1961, a República Federal de Alemanha (RFA) deixou de contar com a mão de obra que vinha de Berlim Oriental e para colmatar começou a convidar trabalhadores de algumas nacionalidades, nomeadamente turcos, para irem trabalhar para a RFA.
Esse programa formal de trabalhadores convidados, chamados Gastarbeiters, permitia a permanência na Alemanha por dois anos. Contudo, como após o prazo as empresas ainda necessitavam dos trabalhadores e não queriam formar novos, a lei foi revogada e os trabalhadores estrangeiros puderam não só permanecer como também trazer as suas famílias.
Foi a partir deste contexto que os turcos passaram a emigrar em massa para a Alemanha e a terem uma forte expressão na sociedade alemã, reveladora em várias dimensões, nomeadamente na área da restauração. 
Ao percorrer as ruas de Berlim, sobretudo em Kreuzberg e em Neukölln cruzamo-nos com inúmeros restaurantes turcos e espaços onde se vendem Döner Kebab. Este fast food, muito apreciado pelos alemães, é inclusivamente uma invenção dos imigrantes turcos na Alemanha.
Obviamente que durante a nossa estadia visitámos alguns desses estabelecimentos e provámos as iguarias turcas.
Fomos ao Bagdad, junto à estação de Schlesisches Tor em Kreuzberg, onde os kebab e as pizzas turcas são reis e rainhas.
Comemos um kebab de frango e outro de falafel. Óptimos, gigantes e a preços muito apelativos.
 
 
Também em Kreuzberg, próximo da estação de Gorlitzer, no Adana GrillHaus comemos lindamente. Mesmo junto à grelha de carvão, saboreámos uma carne de frango grelhada divinal, um delicioso húmus, uma maravilhosa beringela, um óptimo pão torrado na grelha e uma salada incrível.
Para além da qualidade da comida, destaque para o óptimo e simpático serviço.
 
 
Ainda em Kreuzberg, fomos ao Hasir, na  Adalbertstrasse, onde apostámos nas mezzes frias (húmus, molho de iogurte, beringela, entre outros), numa especialidade da casa feita com beringela e em alcachofras fritas com queijo branco. 
Comida boa, mas longe da qualidade do Adana.
A Turquia chega ainda com mais intensidade a Berlim todas as terças e sextas feiras, na fronteira entre Neukölln e Kreuzberg, no Maybachufer. 
Nesses dias, entre as 11h e as 18h30, decorre o Mercado Turco, que tem quase tudo o que se pode encontrar no Bósforo.
Frutos secos, azeitonas, molhos caseiros, frutas, vegetais, pães, doces turcos, especiarias, queijos, comida turca, tecidos, são algumas das coisas que se podem encontrar.
 
 
Neste pedaço onde à boa maneira turca se pode regatear o melhor preço, a língua turca paira no ar. Por momentos sentimos que somos transportados para outras coordenadas.
Aqui Berlim é mais turca.

domingo, 21 de fevereiro de 2016

Facil | Berlim

Facil é um restaurante no centro de Berlim.
Fácil é não nos esquecermos de uma das sobremesas aí servidas e do facto de termos feito a refeição na presença da Meryl Streep.
Facil é um dos seis restaurantes com duas estrelas Michelin em Berlim. Fica no 5º andar do The Mandala Hotel, num pátio todo envidraçado e ladeado por bambus.
O espaço é luminoso e elegante. Dali, devido à cobertura em vidro, olhando para cima vê-se o céu, a chuva, as estrelas.
 
 
Olhando para baixo vimos e saboreamos as criações do chef Michael Kempf e do maître de pastelaria Thomas Yoshida, vencedor em 2015 do prémio Gault&Millau.
A cozinha de Kempf é moderna e criativa e apoia-se essencialmente em produtos locais.
O trabalho de Yoshida é artístico e soberbo, como provam as criações das suas sobremesas.
Optámos por visitar este espaço ao almoço, onde os preços são consideravelmente mais acessíveis.
Fizemos um menu personalizado de três pratos por pessoa, escolhidos a partir da lista disponível.
Ao todo vieram para a mesa cinco pratos diferentes (2 entradas iguais, 2 pratos principais diferentes e 2 sobremesas diferentes.
Entretanto foi servido o couvert composto por manteiga, pesto e quatro tipos de pães. Todos excelentes. Surpreendente o pão de caril.
 
De seguida chegou o amuse bouche.
 
 
De entrada saboreámos um ceviche de cavala com coentros e rabanete.
Diferente do ceviche clássico, este prato apresenta ainda assim a frescura do original.
 
Dentro dos pratos principais aviámos um polvo com feijão, alcachofra e tomate. Prato suave e mais ao estilo da cozinha mediterrânea.
 

O outro prato principal foi um guisado de veado com couve-de-bruxelas, cranberry e cogumelos. Neste prato forte e de influência germânica destaque para as diferentes texturas, nomeadamente o crocante da couve-de-bruxelas. Surpreendente.


Foi o capítulo das sobremesas o que mais surpreendeu.
Sobretudo a sobremesa Jivara-Chocolate-Almond, Ginger and Dried Fruits, que no nome apresenta apenas uma pequena parte dos ingredientes que a compõem.


A pergunta que se impõe é, quantos sabores cabem nesta sobremesa? Impossível de dizer.
Desde o chocolate, aos frutos secos passando pelo gelado, há uma imensidão de outros sabores, ingredientes, texturas e emoções. 
Para além desta riqueza destaca-se a componente artística e visual da sobremesa. De uma delicadeza, talento e precisão a escultura da cara em chocolate.
Uma experiência inesquecível, quando a excelência dos sabores anda a par com a sublimidade da estética.
A outra sobremesa foi Quince, Chervil and Madagascar-Vanilla. Mais simples esteticamente, mas igualmente perfeita na composição sensorial (paladar e visual).
 
 
Difícil é esquecer as boas experiências.
Já agora, uma dúvida, será que a Meryl, por aquelas paragens por conta da Berlinale, nos sentiu tão bem como nós a ela?
Enquanto pensávamos sobre esta questão, para finalizar, chegaram estes mimos doces para nos adoçarem ainda mais a alma e o estômago.